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TRÁS DOS PANOS, TEM COISA PIOR QUE PARTIDOS”, DIZ DILMA
por Cintia Alves
Jornal GGN - Dilma Rousseff (PT) encerrou nesta
sexta-feira (12) a série de sabatinas com os principais presidenciáveis
promovida pelo jornal O Globo afirmando que "por trás dos panos, tem coisa
pior que partidos". A declaração foi uma resposta ao discurso de Marina Silva
(PSB), que defende uma "nova política" rejeitando as legendas
convencionais, vibrando pelos "homens de bem". Segundo a presidente,
a visão marinista de reforma beira, ingenuamente, o sentimento antidemocrático.
A petista, que lidera as pesquisas de
intenções de voto, pincelou algumas propostas para economia, segurança,
educação e saúde. Ela defendeu uma reforma política conduzida por um
plebiscito. Rejeitou o discurso anti-política abraçado por Marina. Reafirmou
uma agenda pró-LGBT com o que cabe ao Estado como prioridade: lutar pela
criminalização da homofobia e garantir direitos civis.
O GGN selecionou
alguns tópicos:
“O que deu de errado em seu governo,
presidente?”
O colunista Artur Xexéu quis ouvir os
“arrependimentos” de Dilma enquanto comandante do Palácio do Planalto. Incitou
um balanço de governo com foco “no que deu de errado”. A petista disse que
nenhum gestor público fica satisfeito com o que fez, porque “sempre é possível
fazer mais”. Emendou com diretrizes para a saúde.
“Nós temos uma
grande escala de brasileiros para atingir, e em alguns programas não estou
satisfeita, precisamos aumentar a escala. Na saúde, por exemplo, acho que o
Brasil ainda tem deficiência em especialistas. As pessoas ficam nas filas
esperando para marcar consultas, exames. É uma área que eu atacaria num segundo
mandato com o mesmo destemor que eu ataquei a falta de médicos [com o Mais
Médicos]. E vou te dizer que aquilo não foi fácil. Tinham regiões no Pará que
não viam médicos desde o descobrimento do Brasil!”, exclamou a presidente. Em
educação, ela adiantou que acredita numa reforma do ensino médio, mas não
detalhou.
Segurança: reforma federativa e ações
integradas
Questionada sobre um visível
enfraquecimento das instituições e políticas de segurança nas últimas décadas,
Dilma disse que é consenso, em seu governo, que enquanto o crime organizado
atua de maneira completamente orquestrada, falta integração às forças policiais
do Estado. Ela afirmou que vai mudar isso em um possível segundo mandato,
tomando como modelo os esforços para garantir a segurança da população e
turistas durante a Copa do Mundo no Brasil.
“Nós achamos que
temos que mudar a Constituição, porque a União tem que ser responsável pela
segurança pública. Hoje, isso é atribuição dos estados, e sempre vemos a
atitude de lavar as mãos. Não pode ser assim. Na Copa, não podíamos deixar essa
quebra na segurança. Fizemos o Centro de Comando e Controle. Cada corporação
respondia à sua própria hierarquia, mas nós conseguimos um grau de atuação
integrada de alta qualidade. Não queremos que isso seja transitório, mas sim
reproduzir esses Centros em todos os estados”, propôs.
Reforma política
O colunista de política Ilimar Franco
puxou a pauta das manifestações de junho de 2013 e o plebiscito da reforma
política como uma das repostas de Dilma à população. “Sem sucesso”, segundo ele
avaliou, já que o Congresso não levou adiante. Ilimar lembrou que Marina
vocaliza o sentimento “anti-política” das ruas, e perguntou qual seria a
estratégia de Dilma diante disso, além de pedir detalhes sobre a reforma
política proposta pela petista.
Dilma defendeu que
o País avançou, nos últimos anos, na direção de uma sociedade mais inclusiva e
democrática. Porém, a política continua atrasada. “O que avalio é que
não vamos passar a reforma que precisamos simplesmente pela mão do Congresso
[como defende Marina]. Isso foi tentado pelo Lula e não teve sustentação. Eu
acredito que, de fato, a melhor ideia é fazer consulta popular. Só essa
consulta vai dar legitimidade e força àquilo que a população resolver. É a
população que vai votar majoritariamente por uma reforma - e eu não vou dizer
qual reforma é essa, pois isso também tem que ser decidido pelo povo”, defendeu
a presidente.
Ela defendeu que um plebiscito traga
à tona pelo menos “cinco tópicos”. Entre eles, o financiamento público de
campanha, o tempo máximo de mandato para o Executivo e a realização conjunta ou
não das eleições para prefeito, governador e presidente. Os outros dois não
foram explicados graças a intervenções do jornalismo de O Globo.
“Por trás do pano, tem coisa pior que
partidos políticos”
Enquanto Aécio
defende um referendo e Marina, uma “reforma política nas urnas”, Dilma apostou
no plebiscito. E criticou o discurso da pessebista: “Dizer que vai
governar com os bons não é uma proposta. Quem é que vai governar com os maus?
Todo mundo quer governar com os bons! Mas só isso não resolve o problema da
reforma política. Eu tenho visão diferente [de Marina]. Para mim, a democracia
não pode prescindir de partidos. Toda vez que isso aconteceu, caímos na mais
negra das ditaduras”, alertou.
Dilma sugeriu ainda
que a população discuta o número de partidos na praça hoje. “Acho que
tem partidos demais, sim, que tem alguns que são excessivos. Mas é o povo que
vai dizer. Não tenho dúvida de que não se governa sem partidos. Pode esperar
que por trás dos panos, tem coisa muito pior que partido. Partido pelo menos
briga na luz do dia. Nós temos muito pouco tempo de democracia para correr
riscos”, explanou.
Religião e agenda LGBT
Questionada sobre
religião, Dilma, “na condição de cidadã”, respondeu que foi aluna de um colégio
de freiras na juventude e começou a fazer política com um núcleo chamado “Grupo
Gente Nova”. “Depois, em Porto Alegre, eu tive uma relação mais ou
menos desse tipo com um grupo religioso. Eu sou uma pessoa que acredita nos
princípios da religião católica. A religião tem uma base ética entre as
pessoas. Isso, para mim é um valor”, comentou. A Dilma presidente,
entretanto, pediu destaque à seguinte ressalva: “O Estado é laico, o
Estado não tem religião, não deve ter. E é inconstitucional transformar
qualquer religião em religião do Estado”, bradou.
Quanto à agenda LGBT, Dilma reafirmou
o compromisso com a criminalização da homofobia e a garantia de direitos civis a
todos os cidadãos que integram o segmento. Mas colocou um limite ao papel do
gestor público.
“O Estado não tem a
obrigatoriedade de impor o casamento religioso. O Estado é laico e não pode
interferir nas religiões. O Estado tem obrigação, sim, de reconhecer direito de
herança, adoção e todos os direitos civis que pessoas heterossexuais tenham.
Essa questão foi resolvida até pelo Supremo Tribunal Federal. Isso está
pacificado. A discussão central agora é sobre a homofobia. A criminalização num
país como o Brasil é absolutamente necessária, assim como foi necessário
criminalizar a violência contra o negro e contra a mulher.”
Independência do Banco Central
Para Dilma, a
proposta de tornar o Banco Central independente, de Marina, é um “equívoco”.“A
independênca do Banco Central seria um quarto poder completamente
questionável”,explicou. A petista defendeu relativa autonomia da
instituição, de modo que o presidente tenha autoridade para nomear e destituir
dirigentes. Ela concordou com o modelo de autonomia praticado durante o governo
FHC, mas questionou os interesses de Marina em tornar o BC completamente
independente. “O Banco Central não é um poder, não teve presidente
eleito pelo povo. Tem que ter um mandato certo”, disse.
Embate com adversários
Sobre o embate
político com os adversários, Dilma disse que apenas trava batalhas com Aécio e
Marina no campo das propostas e ideias. “Toda minha divergência com
Marina está baseada em propostas. Ela quer diminuir o papel dos bancos
públicos, e isso preciso ser discutido sim. Vai acabar com uma série de
financiamentos e investimentos. Não ficará pedra sobre pedra se acabarem com a
presença dos bancos públicos”, disparou.
CPI e alianças com Collor e Sarney
Sobre CPIs que não avançam no
Congresso, Dilma foi cobrada por não ter determinado à base governistas que, no
caso Petrobras, por exemplo, as apurações fossem conclusivas. Ela respondeu que
o Congresso tem autonomia em relação ao Executivo e ainda avaliou que
investigações parlamentares, principalmente contra a estatal, têm caráter
político.
“Todo ano eleitoral
tem CPI da Petrobras, e outras CPIs necessárias não andam. Não houve uma CPI do
Metrô, com a história da Alstom e o governo do Estado de São Paulo. Não há
prosseguimento ao chamado mensalão mineiro. Acho que no caso das CPIs, elas não
têm tanto poder investigatório como outros órgãos [Polícia Federal, Ministério
Público, etc]. Elas podem contribuir com grande papel, mas não podem fazer CPI
em cima de uma reportagem de uma revista. Não há base legal, não forma prova,
isso”, criticou.
Confrontada por um internauta acerca
da manutenção de figuras como Sarney e Collor no arco de alianças do governo,
Dilma disse que é naturalmente possível firmar alianças diversas e ainda manter
sua posição integral. Ela acrescentou que respeita o ex-presidente e que não é
uma “instância de poder para julgar Collor” - embora seja pressionada a
fazê-lo.
Ela lembrou que quem elegeu tais
parlamentares foi o povo. “O que não é possível é querer que o presidente da
República casse, tire direitos políticos e afaste as pessoas”, finalizou.
Economia de defesa do Estado
Dilma pintou o contexto do cenário
global com os jornalistas de O Globo para sustentar o que chamou de “política
econômica defensiva” durante seu governo. Segundo ela, cobram dela e do
Ministério da Fazenda uma reação de crescimento que nenhum país esboçou ainda,
em função da crise internacional.
“O importante é que
durante a crise nós não desempregamos, não reduzimos salário e ainda investimos
em coisas que nunca se investiu antes. Onde já se viu investir bilhões em
transporte de massa durante uma crise?”, indagou. “Eu assumo que tive uma política
defensiva em relação à crise. Eu sei o tamanho da crise e acho que vocês também
conhecem os números. Vimos a falta absoluta de políticas de austeridade, no
mundo, que acabou levando à tal da geração nem-nem - nem trabalha, nem estuda.
Nós precisamos, agora, de uma política ofensiva, de retomada da produtividade”,
acrescentou.
Segundo ela, a base para o salto na
economia foi construída, em parte, pelos investimentos em cursos
profissionalizantes. Ela citou o Pronatec e a formatura de mais de 8 milhões de
pessoas. Outra base citada foi a criação do Ciência Sem Fronteiras. Ela
ainda reafirmou a saída do ministro Guido Mantega do primeiro escalão de um
possível segundo mandato.
JORNAL GGN 12 de setembro de 2014 às 16:54 atualizado às 21:17
Adaptado pelo Blog do SINPROCAPE 13.09.2014 07h29m
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