MALAFAIA APROVA RECUO DE MARINA: “MELHOROU
MUITO”
Tão impressionante quanto o
recuo de Marina Silva em relação a seu compromisso sobre o casamento gay, que
estava impresso em seu programa de governo anunciado ontem, foi a forma como
tudo aconteceu; neste sábado, o pastor Silas Malafaia postou em seu twitter a
seguinte mensagem: "Aguardo até segunda uma posição de Marina. Se isso não
acontecer, na terça será a mais dura fala que já dei até hoje sobre um
presidenciável"; horas depois, ela mudou de posição; agora, no fim do dia,
Malafaia posou de vitorioso; "decidimos qualquer eleição"; afinal,
quem é o candidato que pretende vestir a faixa presidencial: Marina Silva ou
Silas Malafaia?
A
candidata que lidera as simulações de segundo turno é Marina Silva, do PSB, mas
há alguém mais forte do que ela na disputa presidencial.
Trata-se
do pastor evangélico Silas Malafaia, identificado por movimentos sociais como
um dos porta-vozes da homofobia no Brasil.
Neste
sábado, ele se colocou acima da candidata. Deu a ela um ultimato e venceu. Logo
cedo, fez a seguinte ameaça em seu Twitter: "Aguardo até segunda uma
posição de Marina. Se isso não acontecer, na terça será a mais dura fala que já
dei até hoje sobre um presidenciável."
Horas
depois, Marina mandou refazer seu programa de governo, que foi distribuído
ontem. Ou seja: o programa não durou 24 horas e, dele, foi retirado o
compromisso da candidata com o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
No
fim deste sábado, Malafaia, vitorioso, tripudiou. "Tenho que ser
honesto. Melhoraram muito. Ela não fez essa correção por causa das minhas
críticas, eu sei que não. Não sou falso humilde nem besta soberbo. Ela fez
porque sabe que não pode contrariar o povo evangélico. Até o mais ignorante dos
evangélicos sabe o que é um casamento gay", afirmou. Em seguida, emendou:
"Decidimos qualquer eleição".
O
recuo de Marina foi criticado também pelo jornalista Ricardo Noblat, que postou
a seguinte mensagem em seu Twitter: "Pegou mal. Ontem, Marina retificou
parte do seu programa de governo sobre energia nuclear. Hoje, sobre LGBT. O que
de fato ela pensa?"
As
idas e vindas da candidata colocaram duas hashtags entre as mais comentadas no
Twitter: #MarinaVoltaAtras e #MarinaIndecisa.
Alguns
internautas questionaram: se ela reage assim à pressão de Silas Malafaia, o que
faria diante de um pedido de Neca Setúbal, herdeira do Itaú e coordenadora de
sua campanha.
Leia, abaixo, reportagem da Reuters em que Marina
justifica seu recuo:
Marina diz que alteração em programa sobre LGBT é
para deixar texto “como acordado”
Por
Maria Pia Palermo
RIO
DE JANEIRO (Reuters) - A
candidata do PSB à Presidência, Marina Silva, afirmou neste sábado que as
alterações realizadas no seu programa de governo no dia seguinte à divulgação
foram feitas pela coordenação da campanha para apresentar o texto que foi
acordado.
Um
dia depois de apresentar o programa de governo na sede do partido, em São
Paulo, o PSB divulgou nota de esclarecimento com novo texto no que se refere ao
capítulo LGBT e menção ao programa de energia nuclear.
"Porque
o texto que foi publicado não era o texto que havia sido acordado. O que
fizemos é apenas retornar ao texto da mediação, da mesma forma que aconteceu
com a questão nuclear", justificou Marina.
Na
nota da campanha de Marina, a mudança foi justificada por uma “falha processual
na editoração”.
Marina
negou que o programa tenha sido corrigido. "Não foi uma revisão. Na
verdade, nós tivemos dois problemas no programa", disse a jornalistas após
caminhada na Rocinha, no Rio de Janeiro.
Segundo
Marina, no que se refere ao trecho de energia nuclear, era "uma questão
que não havia sido acordada com Eduardo". Marina, que era candidata a
vice, assumiu a chapa após a morte de Eduardo Campos em um acidente aéreo no
dia 13. A ex-senadora vinha reiterando que o programa que apresentaria já havia
sido revisado com Campos e seria respeitado.
"Na
parte do LGBT, a parte que foi para redação foi a parte apresentada pelos
movimentos sociais" , disse, acrescentando que todos fizeram propostas e
foram contempladas todas as propostas. “O que fizemos é apenas retornar ao
texto da mediação."
Evangélica,
Marina tem sido questionada sobre suas posições em relação ao aborto e ao
casamento entre homossexuais, mas voltou a dizer que defende um Estado laico.
"Estado
laico é para defender os interesses de todos, de quem crê e de quem não crê,
independentemente da cor, orientação sexual ou religião."
A
nova versão do programa de governo da candidata do PSB retira a menção ao
programa de energia nuclear como um dos que devem ter sua escala aperfeiçoada e
aumentada e que são considerados pela candidata como "fundamentais" e
"vitais para a sociedade do futuro”.
No
capítulo sobre lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT), a
nova versão do programa marineiro tira do texto original o apoio a projetos de
lei e emendas à Constituição que "garantem o direito ao casamento civil
igualitário na Constituição e no Código Civil".
Em
vez disso, a versão, agora considerada a correta pela campanha de Marina, se
compromete a "Garantir os direitos oriundos da união civil entre pessoas
do mesmo sexo" sem, no entanto, mencionar o apoio à aprovação de leis
neste sentido.
Além
disso, a nova versão do programa, divulgado na sexta-feira, retira a defesa da
aprovação do projeto de lei em tramitação no Congresso que equipara a
discriminação por orientação sexual à discriminação por raça e etnia.
O
novo texto também deixa de se comprometer com a eliminação de "obstáculos
à adoção de crianças por casais homoafetivos" e passa a se comprometer a
"adotada, dar tratamento igual aos casais adotantes, com todas as
exigências e cuidados iguais para ambas as modalidades de união, homo ou
heterossexual".
Por
fim, a versão revisada do programa de Marina deixa de se comprometer a
"dar efetividade" ao Plano Nacional de Promoção da Cidadania e
Direitos Humanos LGBT e passa a falar em "considerar as proposições"
do plano na elaboração de políticas para esse segmento da população.
MUITO
CHÃO PELA FRENTE
Depois
do salto dado nas pesquisas eleitorais nesta semana, Marina foi cautelosa ao
comentar uma possível vitória já no dia 4 de outubro e disse que há um longo
caminho pela frente.
Marina,
que assumiu a candidatura após a morte de Campos, já aparece empatada em
primeiro lugar com Dilma Rousseff (PT), derrotando com folga a presidente numa
segunda rodada, de acordo com pesquisa Datafolha divulgada na sexta-feira.
Dilma
e Marina têm 34 por cento das intenções de voto cada uma no primeiro turno,
mais do que o dobro de votos do terceiro colocado, Aécio Neves (PSDB), que
aparece com 15 por cento. Num segundo turno, a candidata do PSB venceria com 50
por cento dos votos, contra 40 por cento de Dilma.
"Ainda
temos muito chão pela frente, queremos é que esse movimento continue, tenho
muita esperança que esse movimento cresça", afirmou a candidata em visita
à Rocinha, no Rio de Janeiro.
Marina
reafirmou seu discurso de conciliação ao dizer que busca mostrar que é possível
unir o Brasil. "Em lugar do embate, o debate; em lugar da separação, a
união em torno do Brasil que queremos", disse. E voltou à carga na questão
econômica: "Para que nosso país não entre na recessão como começou a entrar,
volte a crescer e controle a inflação."
Sobre
a estratégia do partido para alcançar uma vitória no primeiro turno, o
presidente do PSB, Roberto Amaral, disse que é aumentar a campanha. "Mais
rua, mais rua e mais rua", afirmou à Reuters.
Marina
fez caminhada pela Rocinha acompanhada do deputado federal Romário (PSB-RJ),
que concorre ao Senado, e do presidente do partido. No Rio o PSB é coligado ao
PT, mas Marina já havia decidido que não subiria ao palanque do senador
Lindbergh Farias, que concorre ao governo do Estado.
(Reportagem
adicional de Eduardo Simões)
brasil 247 30 de
agosto de 2014 às 19:23
Adaptado pelo Blog do SINPROCAPE 31.08.2014 00h10m