Gastos com cartão corporativo chegaram a R$ 61,8 milhões em 2013
Os gastos com o chamado “cartão corporativo” do governo federal
continuam a crescer. As despesas atingiram R$ 61,8 milhões em 2013. Apesar de
próximo, o montante é maior do que os R$ 59,6 milhões de 2012 e R$ 58,7 milhões
de 2011. Os gastos foram elevados em metade dos 24 órgãos que utilizam o
cartão.
As despesas por meio do cartão subiram na Presidência da República e nos
ministérios da Justiça, Educação, Planejamento e Defesa. Também estão na lista
de aumentos as pastas do Trabalho, Minas e Energia, Integração Nacional,
Comércio Exterior, Pesca, Relações Exteriores e Desenvolvimento Social.
A campeã de dispêndios em 2013 foi a Presidência da República. Ao
todo foram gastos R$ 18,1 milhões no ano passado, contra os R$ 17,7 milhões de
2012. A maior responsável pelas despesas da Presidência é a Agência
Brasileira de Inteligência (Abin): do total, R$ 11,2 milhões ou 60% do gastos
foram realizados pela Pasta.
Os gastos da Abin, assim como grande parte dos dispêndios do Gabinete de
Segurança Institucional da Presidência, que desembolsou R$ 5,6 milhões por meio
do cartão no ano passado, são considerados secretos. Segundo o Portal da
Transparência, as informações são protegidas por sigilo, nos termos da
legislação, para garantia da segurança da sociedade e do Estado.
O Ministério da Justiça, que ocupa a segunda posição no ranking dos
órgãos que mais gastaram com cartão corporativo, aumentou em 8,5% seus
dispêndios em 2013. Os valores passaram de R$ 11 milhões em 2012 para R$ 11,9
milhões no ano passado. Os gastos se concentram no Departamento de Polícia
Federal (R$ 10,3 milhões) e no Fundo para Aparelhamento e Operacionalização das
Atividades-fim da Polícia Federal (R$ 1,3 milhão).
Em valores absolutos, o maior crescimento, no entanto, foi no desembolso
do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Os gastos com o cartão foram
elevados em R$ 1,4 milhão. Os valores chegaram a R$ 6,5 milhões no ano passado.
Quase a totalidade dos gastos foi utilizada pelas diversas unidades estaduais
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Em 12 anos, o governo federal destinou R$ 537,8 milhões para
pagamentos efetuados com os cartões que, em regra, só deveriam ser usados em
despesas excepcionais ou de pequeno vulto. O recorde de gastos ainda é do
último ano de mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2010,
quando R$ 80 milhões foram desembolsados com os cartões.
50% dos gastos são sigilosos
A cultura do sigiloso nos gastos com cartão corporativo também é
crescente. Em 2013, quase 50% dos gastos do cartão corporativo foram realizados
de maneira sigilosa. O percentual equivale a R$ 29,6 milhões. No ano passado,
as despesas também representaram parte significativa dos gastos: 47% dos R$
59,6 milhões desembolsados foram de maneira sigilosa.
Apenas um servidor gasta mais de R$ 100 mil
Tendo como base os gastos por portador, o servidor que ocupa a primeira
posição é Bruno José Costa Schettino, que pagou R$ 105,2 mil por meio do
cartão. O funcionário trabalha no Comando da 13ª Brigada de Infantaria
Motorizada, em Cuiabá, no Mato Grosso. A unidade gestora é vinculada ao Comando
do Exército do Ministério da Defesa.
Em segundo lugar está João Monteiro de Souza Junior da Unidade Estadual
do IBGE no Amazonas, vinculada ao Ministério do Planejamento. Ele fez uso de R$
97,5 mil. Os recursos, conforme o portal da transparência do governo federal,
foram utilizados em forma de saque. Constam 97 saques de R$ 1 mil e um de R$
500,00.
Segundo o Manual do Cartão de Pagamento do Governo Federal, o cartão
permite a possibilidade de efetuar saques nos terminais de auto-atendimento do
Banco do Brasil. O teto de saque é de R$ 1 mil por dia para cada portador.
Diariamente, a Secretaria do Tesouro Nacional informa ao Banco do Brasil o teto
de saque permitido para cada Unidade Gestora, dentro do limite máximo dos
terminais, com base nos empenhos efetuados.
Seguidamente, a servidora Maria de Fátima Santos da Silva, também da
Unidade Estadual do IBGE no Amazonas, fez uso de R$ 70,6 mil da verba pública
pelo cartão corporativo. Suas despesas estão majoritariamente concentradas em
postos de combustível e saques.
Vale ressaltar que quando saques são realizados, não é disponibilizado no
sistema a razão social do gasto, então não é possível saber em que o dinheiro
foi aplicado.
Controle
De acordo com recomendações da CGU, os servidores que utilizam o cartão
devem se pautar pelos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência. O cartão substitui a modalidade de gasto chamada
suprimento de fundos. Nela, um adiantamento é concedido ao servidor, a critério
e sob a responsabilidade da figura do controlador de despesas em cada
instituição. Há um prazo estipulado para a aplicação e a comprovação dos
gastos, mas não há um controle na internet como ocorre com os cartões.
Além do controle interno, o Tribunal de Contas da União (TCU) também
atua na fiscalização destes gastos. Entre as irregularidades já identificadas
pelo tribunal estão a aquisição de material permanente e os pagamentos de
gratificações a informantes e colaboradores.
Histórico
O sistema de pagamento foi criado em 2001, no governo de Fernando Henrique
Cardoso, com a intenção de proporcionar mais agilidade, controle e modernidade
na gestão de recursos. Pela lei, a utilização dos cartões não é regra e os
gastos devem ser enquadrados como despesas excepcionais ou de pequeno vulto.
Em 2008, o uso de cartões de pagamento pelo governo federal ganhou as
manchetes brasileiras após denúncias de uso indevido do “dinheiro de plástico”.
As suspeitas resultaram em uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). Sob
críticas da oposição, a CPI dos Cartões Corporativos isentou todos os ministros
do governo Lula acusados de irregularidades no uso dos cartões.
O caso, entretanto, provocou a queda da então ministra da Secretaria
Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro. Em
2007, as despesas de Matilde com o cartão corporativo somaram R$ 171 mil. Desse
total, a ex-ministra gastou R$ 5 mil em restaurantes e R$ 461 em um free shop.
No ano do escândalo, o governo alterou as regras para o uso de cartões,
para evitar a utilização da folha de pagamento com gastos pessoais. A
Controladoria Geral da União lançou ainda um manual orientando os servidores
sobre como usar o cartão corporativo.
18 de janeiro de 2014
Dyelle Menezes e Marina Dutra
Contas Abertas
Adaptado pelo blog do SINPROCAPE - 19.01.2014 18h35m