GUERRA PELO PODER
REFORMAS TRABALHISTA E DA
PREVIDÊNCIA SÃO OBJETIVOS DO PSDB PARA FICAR COM TEMER
Ao se manter na base do governo, partido consolidou
a negação de sua própria origem, mas aposta na aprovação das reformas. Temer
sabe que, se PSDB abandonar o Planalto, os demais partidos vão segui-lo
Jereissati (esq.) se disse voto vencido e Alckmin afirmou que importante são reformas, e não sair do governo
São Paulo
– O "fico" do PSDB, que em reunião na segunda-feira (12) decidiu permanecer na base do
governo de Michel Temer, tem dois significados: histórico e conjuntural. Historicamente,
o partido fundado em 25 de junho de 1988 principalmente por dissidentes do
PMDB, poucos meses antes da promulgação da "Constituição Cidadã",
consolidou esta semana a negação de sua própria origem. Do ponto de vista do
atual cenário político, a legenda tem os olhos voltados para as eleições de
2018 e, ao mesmo tempo, nas reformas trabalhista e previdenciária em cuja
aprovação ainda aposta.
"Em função
do processo do impeachment, eles cometeram um grande erro histórico ao se
subordinarem ao PMDB", diz o professor de Ética e Filosofia Política na
Universidade de São Paulo (USP) Renato Janine Ribeiro.
Para Aldo
Fornazieri, professor de Filosofia Política da Fundação Escola de Sociologia e
Política de São Paulo (Fespsp), "há um colapso político e moral" do
PSDB. "Ele é hoje exatamente o oposto do que se propôs a ser 29 anos
atrás, em sua fundação. Se propunha a ser mais distante das benesses do poder e
próximo da pulsação das ruas, um partido de afirmação dos direitos sociais e de
combate à corrupção. Mas hoje é o partido da negação dos direitos sociais e
aliado e praticante da corrupção."
Lideranças mais jovens do partido, como os deputados estaduais de
São Paulo Carlos Bezerra Jr. e Cauê Macris, foram voz vencida na defesa
do desembarque dos tucanos do barco de Temer. "Ficar no governo Temer,
mesmo com a absolvição da chapa no julgamento do TSE, é dar abraço de afogado.
Esse governo vem nadando em um mar de escândalos desde que assumiu",
disse Bezerra em entrevista à revista CartaCapital.
Janine Ribeiro
lembra que, em 1988, quando surgiu, a legenda pretendia ser social-democrata.
"Mas o espaço social-democrata acabou sendo ocupado pelo PT, na medida em
que o PT assumiu uma vocação de governo. Esse processo deixou o PSDB sem lugar
na social-democracia", diz. Para ele, o movimento do PSDB rumo à direita
teria sido natural e ele "poderia ter se convertido num grande partido
liberal, o que não aconteceu".
Seja como for,
o "fico" do partido na embarcação de Temer é calculista, pragmático e
focado na tentativa de entregar os pacotes que a legenda promete ao mercado,
com destaque para as reformas trabalhista e da Previdência. "Essa
permanência do PSDB é provisória. Entendo que o partido vai ficar no governo
apenas enquanto estiver sendo votada a reforma trabalhista e, talvez, tente
avançar a reforma previdenciária", diz o cientista político da
Universidade de Brasília (UnB) Ricardo Caldas.
Poucas horas
antes da reunião do partido que definiu a permanência ao lado de Temer, o
governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, já antecipava a decisão: "A
questão se vai ter ministro ou não é secundária. O importante é o compromisso
com as reformas. É essa a agenda com a qual nós temos
compromisso", disse, em evento em São Paulo.
Para o analista
da UnB, "a situação vai ficar insustentável para o partido na medida em
que surgirem novas acusações contra Temer, como estão surgindo". O apoio
provisório a Temer vai se manter enquanto a situação do próprio presidente é
indefinida. Caldas acredita que uma definição deve ser decorrente de um
processo que não terminará antes de dezembro deste ano.
Temer se
esforçou muito para manter os tucanos no governo porque sabe que é condição
necessária para se segurar na presidência. "Se o PSDB resolver abandonar,
os demais partidos vão seguir", diz Caldas. "No momento acho que não
vai acontecer nada. Não há dúvida de que, com a vitória no TSE, Temer ganhou
uma sobrevida, ganhou um fôlego. Ele ganhou a batalha, não sei se vai ganhar a
guerra."
Na guerra que
continua, lembra Caldas, os próximos lances são potencialmente ameaçadores: a
batalha no Supremo Tribunal Federal; a denúncia do procurador-geral da
República, Rodrigo o Janot; novas denúncias de Joesley
Batista; novas delações, como do doleiro Lucio Funaro, além de Marcos Valério e
o ex-diretor da Petrobras Renato Duque. "É um conjunto de coisas que vai
estourar no semestre que vem."
2018
Para as
eleições de 2018, o partido espera contar com a grande penetração do PMDB em
todo o país, se o casamento de ocasião com Temer render frutos. Mas o PSDB não
tem um nome que apareça com favoritismo. Com o senador afastado Aécio Neves
(MG), descartado por conta das graves denúncias, os nomes de Alckmin e do
prefeito "gestor" de São Paulo, João Doria, são os que despontam.
Em termos de
experiência, o melhor nome para 2018 é Alckmin. "Mas ele também está no
rol dos acusados entre os beneficiários no sistema do Metrô de São Paulo.
Inclusive o cunhado dele (Adhemar César Ribeiro) foi apontado como possível
operador (de esquema de pagamento via caixa 2). Hoje, do ponto de vista
eleitoral, entendo que o melhor nome do PSDB não é Alckmin, mas o
Doria", diz Ricardo Caldas. Ambos apoiaram a permanência no governo
federal na reunião de segunda-feira. O cacique e presidente interino Tasso
Jereissati se declarou contrário ao "fico". "Minha posição foi
vencida. Não houve consenso da maioria", disse no dia 12.
Para Janine
Ribeiro, os possíveis quadros do PSDB para disputar a eleição presidencial
estão muito distantes do "DNA" que deu origem ao partido. "Se
pensarmos no PSDB de Ruth Cardoso, Franco Montoro e Mário Covas, ao meu ver a
trinca histórica do PSDB, a atual liderança não tem quase nada a ver com eles.
O próprio Serra perdeu muito da sua personalidade antiga, mais à esquerda do
PSDB. Alckmin tem muito pouco a ver com o DNA Ruth-Montoro-Covas. Os nomes de
Doria e Luciano Huck tem menos a ver ainda."
Na opinião do
ex-ministro, considerando que Aécio é carta fora do baralho,"Serra está
numa posição estranhamente secundária" e Fernando Henrique Cardoso não é,
provavelmente, um presidenciável, resta o governador paulista. "O único
líder viável é o governador Alckmin."
Fonte: REDE BRASIL ATUAL - 15 de junho 2017 - 11h20m
Adaptado pelo Blog do SINPROCAPE - 15.06.2017 - 14h34m