“ELES NÃO QUEREM
NEGOCIAR?"
METALÚRGICOS DO PAÍS QUEREM
ACORDOS SEM EFEITOS DA REFORMA TRABALHISTA
Sindicalistas do setor ligados
a seis centrais reafirmam unidade contra mudanças na legislação e retirada de
direitos. Categoria terá um dia nacional de protestos e plenária nacional em
setembro
por Vitor Nuzzi
Reunião
no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC: dirigentes de diversas regiões e também
de outros setores
Sindicatos de metalúrgicos de todo o país, vinculados a seis
centrais, vão se unir para manter e renovar as respectivas convenções coletivas
sem os efeitos da chamada "reforma" trabalhista, aprovada no
Congresso e sancionada como Lei 13.467. A ideia é inviabilizar, na prática, a
lei que alterou mais de uma centena de dispositivos da CLT e não permitir
redução de direitos nas negociações das campanhas salariais, como as que já
foram iniciadas em São Paulo e no Paraná, entre outras regiões. Em 14 de
setembro, a categoria fará um dia nacional de manifestações e fechará o mês, no
dia 29, com uma plenária reunindo outros segmentos industriais. Na semana que
vem, está previsto um "esquenta" do movimento, com manifestações nos
locais de trabalho.
Algumas dessas
estratégias foram traçadas hoje (22), durante reunião na sede do Sindicato dos
Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo. Participaram dirigentes de
confederações, federações e sindicatos ligados a CSP-Conlutas, CTB, CUT, Força
Sindical, Intersindical e UGT, com base estimada em mais de 2 milhões de
metalúrgicos. Também estavam presentes representantes de outras categorias,
como metroviários, petroleiros e trabalhadores na construção civil e no setor
têxtil. Eles também chamaram a atenção para a reforma da Previdência, que segue
tramitando na Câmara (Proposta de Emenda à Constituição 287).
Os
sindicalistas usam um princípio frequentemente mencionado pelos empresários, da
prevalência de acordos sobre a legislação, para fortalecer a campanha e manter
os direitos. "Já que é o negociado sobre o legislado, nós já negociamos
essas convenções coletivas há muito tempo", diz o secretário-geral da CUT
de São Paulo, João Cayres. "Antes mesmo de a reforma ser aprovada,
os empresários já queriam negociar com base na nova lei. Agora, a pressão é
muito maior."
O desafio, que
já existia e agora aumentou, é manter as cláusulas sociais, observa Cayres.
Para ele, com a reforma aprovada "estão legalizando as atrocidades que
fazem no mercado de trabalho".
O presidente da
Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos (CNTM, filiada à Força) e
do sindicato de São Paulo, Miguel Torres, afirma que a campanha pretende
fortalecer a negociação coletiva e as campanhas, independentemente de central.
"Não dá para unificar a data-base, mas dá para unificar ações", diz,
acrescentando que vários grupos patronais vão querer introduzir o modelo da
nova lei nas próximas negociações. "Temos de ficar atentos."
Ele avalia que
a medida provisória negociada entre algumas centrais e o governo não terá muito
"fôlego" no sentido de reduzir os impactos da reforma. "São
cinco ou seis pontos que vão ser atenuados, e não dá muita certeza",
comenta o dirigente, para quem o caminho é a conversa direta com os patrões.
"Quem está negociando com as empresas é o sindicato, que conhece a
realidade local. Eles não querem negociar? Então vamos negociar."
Outro eixo da
campanha tem foco na campanha eleitoral do ano que vem, com a perspectiva de
mudanças do ponto de vista legal, inclusive em relação à lei recém sancionada.
"A gente tem de mudar o Parlamento", afirma Miguel.
"Desde o governo Fernando Henrique que os trabalhadores não
sofrem um ataque tão violento", avalia o presidente da Federação
Interestadual de Metalúrgicos e Metalúrgicas do Brasil (Fitmetal,
com representação em nove estados), Marcelino da Rocha. "A unidade é
fundamental para que os trabalhadores não percam os seus direitos históricos.
Nossa luta é contra a efetivação de tudo aquilo que foi aprovado na reforma
trabalhista", resume.
Mesmo com
a situação adversa, com desemprego em alta, é preciso resistir, acrescenta o
dirigente.
"A ideia
central é que seja revogada (a reforma)", acrescenta Luiz Carlos Prates, o
Mancha, da direção da CSP-Conlutas e do sindicato de São José dos Campos, no
interior paulista. A partir da mobilização dos metalúrgicos, outros setores
deverão ampliar a mobilização contra as políticas do governo Temer, diz o
dirigente.
"Queremos expandir esse movimento e dialogar com outras
categorias, começando pelos trabalhadores ligados aos setores da
indústria", afirma o secretário-geral do sindicato do ABC, Aroaldo
Oliveira da Silva. Ele lembrou que nas primeiras conversas da campanha deste
ano – os metalúrgicos da CUT em São Paulo têm data-base em 1º de setembro –,
algumas bancadas patronais já manifestaram sua posição de aplicar os dispositivos
da nova lei. A federação estadual cutista, diz Aroaldo, tem proposto
"cláusulas de resistência", para barrar tanto os efeitos da reforma
como de outra lei aprovada neste ano (13.429), que libera a terceirização em
todas as áreas.
Os integrantes do chamado movimento Brasil Metalúrgicos voltarão a
se reunir na próxima terça-feira (29), em São Paulo.
Fonte: REDE BRASIL ATUAL - 22 de agosto 2017 - 17h41m
Adaptado pelo Blog do SINPROCAPE - 25.08.2017 - 10h30m