PROFESSORES DA UNICAMP EXPÕEM NEOLIBERALISMO DE AÉCIO E MARINA
por Miguel do Rosário
A Unicamp, um dos últimos
bastiões de uma escola econômica fundamentalmente humanista, assume,
espontaneamente, na figura de seus intelectuais, a vanguarda na luta contra o
neoliberalismo.
Neoliberalismo, nunca é demais
lembrar, que destruir milhões de empregos no país, destroçou as finanças do
Estado, e nos levou a vender estatais estratégicas a preço de banana.
O artigo abaixo é uma resposta
Armínio Fraga, que, na sequência das declarações de Aécio Neves sobre a
necessidade de “medidas impopulares” andou falando que os salários no Brasil “cresceram muito“.
Mas deixam claro que, na
opinião deles, o projeto de Marina Silva contaminou-se pelo mesmo vírus
neoliberal.
*
Dois projetos econômicos em disputa
Por Pedro Rossi e Jorge
Mattoso, da Unicamp.
Ainda que o clima eleitoral
possa encorajar posturas mais militantes, esperávamos que um economista
experiente como Arminio Fraga se dispusesse a dialogar com opiniões divergentes
com alguma serenidade. Lamentamos o tom e os termos de sua resposta ao nosso
artigo publicado em 1º de setembro neste mesmo espaço.
Mesmo assim, agradecemos sua
resposta. Ela reforça nossa constatação de que desqualificar o interlocutor e
apresentar questões econômicas como um problema técnico seriam apenas uma
tentativa de esconder divergências essencialmente políticas ou determinados
interesses econômicos.
Divergências no campo da
economia têm diferentes pontos de partida. O paradigma keynesiano fundamenta o
papel do Estado na preservação de bancos públicos, no incentivo à diversificação
da estrutura produtiva, no provimento de serviços sociais universais e na
redução das desigualdades. Nessa perspectiva, os mecanismos de mercado seriam
incapazes de garantir uma distribuição de renda mais igualitária ou o acesso de
todos aos direitos sociais fundamentais.
Já o paradigma neoclássico,
que fundamenta o atual liberalismo econômico, tem outra visão do papel do
Estado e das políticas sociais e da desigualdade de renda. Alguns economistas
neoclássicos, como Gregory Mankiw, justificam explicitamente a desigualdade de
renda e os supersalários do setor financeiro alegando que as remunerações de
mercado refletem a meritocracia e remuneram fatores de produção de acordo com a
contribuição que esses proporcionam à sociedade.
Esse argumento crê que a
criação de riqueza depende de incentivos de renda. Por isso, a desigualdade
seria funcional ao crescimento e deveria ser “corrigida” pelo próprio mercado.
Com relação às políticas sociais, os neoclássicos defendem a focalização em
detrimento do acesso universal aos serviços sociais. Ao Estado caberia apenas
cuidar dos mais pobres, enquanto os demais buscariam no setor privado o
atendimento de suas demandas.
Portanto, além de refratários
à distribuição da renda, há também evidentes contradições entre a visão
neoclássica e o Estado de bem-estar proposto pela Constituição de 1988.
No debate brasileiro, os
economistas neoclássicos mostram seu liberalismo ao defender a redução do
Estado no setor produtivo e no sistema financeiro. Mas quando tratam da questão
social e distributiva, o liberalismo esbarra em suas próprias contradições.
Talvez venha daí a dificuldade de Arminio Fraga em explicar claramente aos
brasileiros por que os salários cresceram “muito” e por que, na visão dele,
isso seria ruim para a economia e a sociedade.
Essas concepções marcam a
diferença entre um projeto econômico liberal e outro em que o Estado seja ativo
na garantia dos direitos sociais e na busca do crescimento econômico com
distribuição da renda.
O projeto liberal reaparece
nas candidaturas de Aécio Neves e de Marina Silva trazendo de volta a
possibilidade de o país retomar um padrão de crescimento concentrador de renda
e de desmontar nosso incipiente Estado de bem-estar social.
Em contrapartida, nos últimos
12 anos, o Brasil caminhou na direção da redução de nossa histórica
desigualdade de renda –mesmo em meio à turbulência da crise internacional– e a
candidatura da presidenta Dilma Rousseff vem reafirmando esse compromisso.
Se ninguém tem o monopólio do
repúdio à pobreza, existem concepções diversas sobre igualdade, meritocracia e
justiça social que diferenciam os dois projetos econômicos em disputa nesta
eleição e que precisam ser cada vez mais explicitadas no debate público.
JORGE MATTOSO, 64, economista,
é professor aposentado do Instituto de Economia da Unicamp. Foi presidente da
Caixa Econômica Federal (2003-2006)
PEDRO ROSSI, 33, é professor
do Instituto de Economia da Unicamp
TIJOLAÇO 18 de setembro de 2014 11:03
Adaptado pelo Blog do SINPROCAPE 18.09.2014 14h32m
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