COMO DILMA MUDOU O DEBATE DA CORRUPÇÃO AO SAIR DA
DEFENSIVA PARA A OFENSIVA
por Paulo
Nogueira
Pouca gente parece ter notado,
mas Dilma achou uma boa saída para a questão da corrupção.
Ela saiu da defensiva para a
ofensiva.
A linha básica de sua
argumentação sobre o assunto é que a corrupção não era investigada antes e
agora é.
Daí a
diferença.
É, de
certa forma, um raciocínio educativo. O brasileiro médio se acostumou
erradamente a pensar que corrupção só existe no Brasil. Mais especificamente:
só em governos populares, de Getúlio a Jango, de Lula a Dilma.
A explicação de Dilma é parcial.
Ela fala no ímpeto investigativo da Polícia Federal, do Ministério Público e da
Procuradoria Geral. Lembra que, na era FHC, o procurador geral, Geraldo
Brindeiro, era conhecido como engavetador geral, por evitar mexer em casos de
corrupção no governo.
Segundo a Wikipédia, dos 626
inquéritos criminais que recebeu, Brindeiro engavetou 242 e arquivou outros
217.
O que
Dilma não disse, provavelmente para evitar atrito com a mídia, é que jornais e
revistas, em administrações amigas, também foram engavetadores de denúncias e
escândalos.
No caso
mais gritante na gestão de FHC, a compra de votos para que a emenda da
reeleição passasse no Congresso simplesmente foi ignorada.
Procure
no arquivo da combativa Veja as reportagens sobre a compra de votos para FHC.
Nada.
Tente
agora o arquivo do Jornal Nacional.
Nada.
Mesmo a
Folha, que trouxe o depoimento de um deputado que vendeu seu voto, teatralmente
chamado de Senhor X, logo abandonou o caso.
Não
retomou nem para informar a seus leitores quem era X. Só dezesseis anos depois,
por conta de um livro sobre o episódio, seus leitores souberam que se tratava
do ex-deputado Narciso Mendes, do Acre.
Num
exemplo dramático, o Brasil da ditadura era, no noticiário da Globo, um país
sem corrupção e sem corruptos no poder.
Escândalos
eram engavetados. Roberto Marinho agia como Geraldo Brindeiro, bem como os
demais barões da imprensa.
Isso
levou muitos brasileiros a acharem que nos tempos dos generais éramos um país
melhor, mais limpo e mais ético.
A
seletividade da mídia na escolha das denúncias a cobrir foi responsável também
pelo sentimento de impunidade de políticos amigos dos donos das grandes
empresas de jornalismo.
E pelo
descaro deles, também.
O caso
mais recente é o de Aécio, que usa a corrupção demagogicamente como arma para
influenciar eleitores menos politizados e mais suscetíveis de manipulações
pseudomoralistas.
Coube a Luciana Genro desmascarar
esse tipo de hipocrisia numa intervenção antológica no debate promovido pela CNBB.
Luciana Genro “mitou” naquele
momento, para usar uma expressão corrente hoje.
Corrupção
é uma praga mundial, e deve ser combatida todos os dias, e todas as horas.
Mas
usá-la capciosamente para atingir adversários ou favorecer amigos é, também, um
ato extremamente corrupto.
Dilma e
Luciana Genro, cada qual do seu jeito, puseram contexto na questão da
corrupção.
É um
avanço na caminhada rumo a uma sociedade madura.
DCM 22 de setembro de 2014
Adaptado pelo Blog do SINPROCAPE 22.09.2014 18h39m
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