O
QUE É PRAGMATISMO POLÍTICO?
Ser pragmático, em qualquer situação da
vida, é um estado natural da condição humana. Em algum momento da existência,
qualquer pessoa terá que ser, em certo nível, pragmático; então, também na
política, é valioso que se saiba a razão de se estar sendo. Entenda o que é o
pragmatismo no campo político e em todos os setores da vida
O emprego do termo “Pragmatismo”
na abordagem da política não pode ser segmentado, reduzido, parcializado de
acordo com interesses ideológicos ou de quaisquer espécies. O conhecimento mais
simples a respeito do referido significado remete às palavras “objetividade” e
“praticidade”; e há como, também, incluir “sustentabilidade” – no caso aqui
representando conciliação, combinação, não entre desenvolvimento econômico e
preservação dos recursos naturais e sim uma adequação de interesses em prol da
essência da bandeira que se defenda no ativismo da política profissional.
Pragmatismo político, portanto,
não é um caminho exclusivo da concepção esquerdista, mas de todas: da direita,
do centro ou das variantes de ambas. Enfim, ser pragmático, tanto no campo
político quanto em todos os setores da vida é inerente à vida humana no planeta
Terra; porque a diversidade natural das coisas, disciplinada por regras de
convívio, obrigada todos a integrarem sua individualidade à coletividade. Em
palavras simples, não é possível fazer tudo o que se deseja, o que implica em,
às vezes, ter que realizar o que não pretende. É o pleno exercício da renúncia,
que todas as pessoas materializam em favor de uma sociedade menos turbulenta.
No espaço específico da política
ocorre o mesmo: se toma decisões contrárias à própria vontade, como também se é
levado a se omitir devido as necessidades contextuais. Isto é pragmatismo,
sustentabilidade, objetividade, realismo, praticidade, conciliação. Quanto mais
heterogênea socialmente for uma nação, mais é necessária a prática da
adequação, da adaptação ao indesejável, ou seja, mais se é empurrado a se
equilibrar em cima do muro, no fio da navalha, na corda bamba. Isto é
pragmatismo.
O Brasil é um dos países onde o
exercício pragmático acontece com mais frequência. Todos os matizes ideológicos
o concretizam. A história política brasileira mostra que todos os esforços
visando reduzir as desigualdades sociais, partindo das próprias elites ou do
povo, não tiveram repercussões radicais com o passar do tempo; tanto que, hoje,
na segunda década do século XXI, o que se vê é a direita e a esquerda
domesticadas pelo centro. Ambas expressam seu estilo moderadamente; senão
veja-se: a direita migrou para o centro, a esquerda idem. E o centro ficou
muito mais substancioso do que sempre foi, repleto daquelas tendências puras
que nele procuram se esconder e se apoiarem para melhor agirem.
Quando uma convicção está bem
alicerçada, dificilmente é revogada, quanto muito é reciclada, adaptada aos
novos fatos. Em relação estritamente às pessoas mais esclarecidas, o
pragmatismo brota dos resquícios de uma convicção mais fragilizada pela
inevitabilidade dos acontecimentos, isto é, pela dinâmica das coisas.
Exemplo: quando o PT de Lula e o
PP de Maluf se compuseram politicamente, nenhuma das partes estava realmente
satisfeita, mas tinham ciência de que não havia caminho melhor para ambas
naquele momento. O auge do pragmatismo, no caso, se deu no início da união;
depois, com o passar do tempo e o convívio natural no poder, o ardor das
diferenças foi diminuindo e o foco principal ficou sendo a manutenção da
aliança e os lucros dela advindos.
Atualmente, as diferenças
fundamentais entre Lula e Maluf (Sarney e outros) são meramente históricas.
Suas trajetórias de vida são a marca indelével que carregarão eternamente,
justificando que, para além de todas as sínteses e antíteses acerca das suas
ideologias, a direita e a esquerda, em seus estados mais puros, jamais se
unirão enquanto o ser humano não racionalizar seu instinto. No entanto, agora o
brasileiro decidirá quem governará o país a partir de 2015. A realidade tem que
ser vista sem lentes que superdimensionem o objetivo em foco. E só dá
pragmatismo.
Começando pelo governo FHC, e
principalmente nas eras Lula e Dilma, a governabilidade do país tem sido o
maior álibi para as coligações e coalizões mais extravagantes. Na atualidade,
em algumas regiões, se vê PC do B e DEM juntos, sem tanto pragmatismo os
ungindo. Não se pode negar que ainda há e toda vida existirá pragmatismo
sólido; todavia, é certíssimo também que os pioneiros pavimentaram a estrada
para que os arranjos políticos não causem o forte impacto de antes. O
pragmatismo contemporâneo pode ser visto, se comparado com o primordial, como
um pragmatismo “debilitado” ou “acovardado”; porém, se encarado sob o prisma
dos avanços conceituais e programáticos da política, necessita ser tratado como
o NOVO PRAGMATISMO; quer dizer, a realidade invadindo e conduzindo as mentes
rumo às proposições e iniciativas plausíveis e distantes das idealizações
exageradamente fantasiosas.
De qualquer forma, o pragmatismo
mais pesado e, consequentemente, mais difícil e sofrido é o da esquerda, que se
vê obrigada a negociar com seus algozes. O da direita é ameno, até falso, visto
que ela está tendo a sobrevida que seria impossível se ainda houvesse aquela
ruptura traumática das revoluções armadas. O pragmatismo do centro, no Brasil
melhor incorporado pelos tucanos, é igualmente leve, contudo não é sensato
impingir-lhe o cinismo da direita, pois o PSDB já nasceu sob o égide da
moderação.
Tudo isso colocado, evidente
ficou que ser pragmático, em qualquer situação da vida, é um estado natural da
condição humana e que, sendo assim, nenhum indivíduo ou grupo possui credencial
para ser o detentor exclusivo da objetividade, da adequação, da conciliação, da
flexibilização, da maleabilidade, enfim, da capacidade de negociar com
equilíbrio, dando o tiro certo, na hora certa e no alvo correto. O debate
político, ou de qualquer outra ordem, precisa ser o mais amplo possível e não
apenas restrito a uma ou outra ideologia.
É necessário esclarecer que todas
as correntes do pensamento político, filosófico, religioso ou de qualquer outra
espécie podem considerar o Pragmatismo Político a sua casa, já que, todos sendo
compatriotas, precisam discutir o Brasil de maneira democrática e sem
subterfúgios. Em algum momento da existência, qualquer pessoa terá que ser, em
certo nível, pragmático; então, também na política, é valioso que se saiba a
razão de se estar sendo.
Só não é pragmático o indivíduo
ou o grupo que encontra no pseudo purismo a imunidade aos desgastes das
negociações. O pragmatista convicto vive engolindo sapos, mas, se degluti-los
corretamente, estará nutrido para lutar por uma sociedade mais justa. Sejam
sempre bem-vindos ao Pragmatismo
Político.
Pragmatismo Político 27 de setembro de 2014 10:45
Adaptado pelo Blog do SINPROCAPE 29.09.2014 15h45m
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