VAZAMENTO DE PESQUISA
ELEITORAL PARA BOLSA É
CRIME ELEITORAL E FINANCEIRO
Se ninguém mais agir, a ONG Movimento dos Sem
Mídia poderá pedir a abertura de investigação que, precipuamente, deveria ser
conduzida pela Polícia Federal
por
Eduardo Guimarães
Na última sexta-feira (19), a presidente
Dilma Rousseff convocou jornalistas para uma entrevista coletiva no Palácio do
Planalto. Quando um repórter a questionou sobre oscilações da Bolsa por conta
de pesquisas de intenção de voto, ela declarou que “Está ficando ridículo.
Especulação tem limites. Tem alguém ganhando com isso e não sou eu”.
Nos
blogs e redes sociais, já se tornou comum internautas comentarem tendências de
pesquisas eleitorais ainda não divulgadas com base na posição da bolsa de
valores – quando a bolsa sobe é porque Dilma irá aparecer em queda na pesquisa
a ser anunciada; quando a bolsa cai é porque a candidata à reeleição aparecerá
em alta na nova pesquisa.
O
arcabouço jurídico sobre abuso de poder econômico e sobre crimes contra o
sistema financeiro é um tanto quanto omisso sobre esse tipo de manipulação
eleitoral e econômica, o que facilita tais abusos. Mas a situação está chegando
a um ponto em que vai ficando claro que os institutos de pesquisa só podem
estar alimentando a boataria.
Tome-se
como exemplo as recentes pesquisas Ibope e Datafolha, divulgadas,
respectivamente, nos dias 16 e 19 de setembro. Nas duas oportunidades, o índice
Ibovespa dos pregões da Bolsa imediatamente anteriores à divulgação das
sondagens comportou-se de acordo com a expectativa a que o mercado foi
induzido.
Na
véspera da divulgação do Ibope, a bolsa subiu por conta da informação de que
Dilma apareceria em queda; na véspera da divulgação do Datafolha, a bolsa caiu
por conta de informação em sentido contrário.
Um site chamado “infomoney”
tem se especializado em divulgar informações antecipadas sobre pesquisas. Essas
informações terminam operando um fenômeno conhecido no sistema financeiro como
profecia autorrealizável, ou seja, ao divulgar fato que o mercado financeiro
considera bom ou mau essa divulgação influi no comportamento das ações das
empresas mesmo que não se confirme
Tem
razão a presidente Dilma: isso está ficando ridículo. Mas não só. Além de
ridículo, isso está se tornando criminoso porque a queda ou a subida do valor
das ações induzem setores da sociedade a encararem a candidatura da presidente
da República à reeleição de forma negativa. E também porque investidores
compram ou vendem ações com base nessas expectativas.
Esse
prejuízo eleitoral para um dos candidatos a presidente advém de um claro abuso
de poder econômico de quem produz e deixa vazar o resultado de pesquisas – só
tendo um instituto de pesquisa para poder operar esse tipo de golpe.
Já no
caso do crime contra o sistema financeiro, difundir boatos como esses – que,
muitas vezes, são infundados – permite a certos grupos venderem caro ações
baratas e venderem barato ações caras. Tais oscilações bruscas no preço das
ações permitem a alguns enriquecerem rapidamente.
Em
tese, cumpriria ao Ministério da Justiça, à Justiça Eleitoral ou ao Ministério
Público Eleitoral desencadear uma investigação da Polícia Federal sobre esse
fenômeno. Porém, tanto os candidatos e partidos afetados quanto qualquer
cidadão ou organização podem provocar esses órgãos.
Essa
investigação teria que começar pelos institutos de pesquisa. Se não deixassem
vazar informações, não poderia haver boataria.
No caso
do comportamento do mercado APÓS a divulgação oficial das pesquisas, não se
pode fazer nada. Os investidores têm direito de gostarem ou não deste ou
daquele candidato. Porém, o peso que a mídia vem dando ao comportamento desses
investidores diante da realidade eleitoral constitui abuso de poder econômico
na eleição.
Assim
como televisão e rádio não podem emitir opiniões sobre os candidatos por serem
concessões públicas, tampouco deveriam poder difundir opiniões sobre por que o
mercado de ações reagiu desta ou daquela forma diante de uma pesquisa já
divulgada ou a ser divulgada.
O ideal
seria que as autoridades eleitorais se manifestassem sobre o assunto. Na falta
dessa atitude, caberia à coligação de Dilma interpor uma representação ao Ministério
Público Eleitoral. Porém, se nenhum desses atores agir, qualquer cidadão pode
fazê-lo.
Se
ninguém mais agir, este Blog, do qual surgiu a ONG Movimento dos Sem Mídia,
poderá pedir, através da Organização, a abertura de investigação que,
precipuamente, deveria ser conduzida pela Polícia Federal. E, como sabem os
leitores mais antigos, esta página nunca se furtou a pôr o guizo no gato, se
necessário.
Blog da Cidadania 20 de setembro de 2014
Adaptado pelo Blog do SINPROCAPE 21.09.2014 05h42m
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