À
AUDITORA DA BOMBA CONTRA NE: “A SENHORA FOI BENEFICIADA POR DILMA”
Caríssima
auditora,
Antes de tudo, preciso
confessar-lhe que, apesar de nordestino, não foi a ofensa ao meu povo e o vigor
sanguinário da senhora que me causaram mais indignação.
Logo de cara, julguei ser mais um
caso entre tantos com o qual seria infrutífero “perder” tempo. Mas quando vi
que se tratava de uma ocupante de carreira exclusiva de Estado, não tive dúvida
acerca da necessidade de dirigir à senhora algumas palavras, com o objetivo de
tentar demovê-la de algumas ideias a partir de fatos bem objetivos. Por favor,
apenas peço que continue lendo até o fim.
Na verdade, o que mais me
indignou no comentário postado em rede social foi saber que a senhora, apesar
de auditora fiscal do trabalho, respaldou quem acredita e faz outras pessoas
acreditarem que o governo que aí está há 12 anos apenas beneficiou pessoas
“desqualificadas” e com “pouca instrução” como os nordestinos, que recebem
Bolsa Família, que estão com os filhos na escola, que hoje cursam uma
universidade, que têm energia elétrica em casa, que estão livres da mazela da
fome, que podem (pasme!) viajar de avião pela primeira vez etc.
Imagino que a senhora desconheça
que, além de governar para todo esse povo nordestino, Lula e Dilma governaram
para a senhora. E não foi de forma indireta. Vejamos: quando FHC, do PSDB (o
mesmo partido de Aécio), entregou o governo para Lula (aquele do PT tão odiado
de Dilma), um auditor fiscal do trabalho recém-nomeado, como a senhora foi recentemente,
ganhava, em janeiro de 2003, R$ 4.544,53 (classe A, padrão I da carreira). Em
1º de janeiro de 2015, quando a presidenta Dilma Rousseff deverá pela vontade
do povo assumir seu segundo mandato, esse valor será nada mais nada menos que
R$ 15.743,64 (classe A, padrão I), segundo a Lei 12.808, sancionada por essa
mesma presidenta em 8 de maio de 2013.
É bem provável que haja o
desconhecimento de outro fato: se hoje a senhora integra uma carreira típica de
Estado e ganha esse valor mensal pelo seu trabalho como servidora não foi
simplesmente pelo seu grande esforço pessoal de estudar e passar num dos
concursos mais concorridos do país. Durante o governo FHC, cuja cartilha será
seguida por Aécio, a ideia era a do Estado mínimo, com instituições públicas esfaceladas
e servidores desvalorizados. Portanto, votar em Aécio significa retroceder a um
modelo de Estado com quase nenhum concurso público e negociações salariais bem
escassas com seus servidores. Sendo muito franco com a senhora, se esse modelo
estivesse vigendo até hoje, mesmo com todo o esforço pessoal, a senhora
provavelmente não estaria onde está e não ganharia o que ganha, simplesmente
porque a oportunidade que lhe foi dada (a do concurso público e a do salário
condizente com seu cargo) muito certamente não existiria.
Nesse contexto, vale destacar
ainda o grande salto que o presidente Lula promoveu à carreira dos auditores
fiscais do trabalho ao sancionar, em 24 de dezembro de 2008, a Lei 11.890,
concedendo, além de aumento escalonado e retroativo a julho daquele mesmo ano,
a transformação da remuneração dos auditores em subsídios – modalidade até
então cabível apenas a alguns cargos e carreiras dentro do Estado brasileiro,
como presidente da República, ministros de Estado, membros da magistratura, integrantes
do Ministério Público etc. Foi uma sinalização clara do presidente para
valorizar a carreira dos auditores do trabalho, extinguindo todos os
“penduricalhos” remuneratórios, como gratificações, abonos e adicionais, que
criavam diferenciações dentro da carreira, estabeleciam instabilidades entre
auditores e submetiam o valor recebido mensalmente a avaliações individuais e
institucionais.
Enfim, só para fazer mais uma
comparação, peço que verifique o valor do topo da tabela remuneratória, em
dezembro de 2002. Quando FHC deixou o governo, um servidor que já havia
percorrido todas as classes e padrões da carreira ganhava R$ 7.376,91 (classe
especial, padrão IV), sendo R$ 4.885,37 como vencimento básico e o restante a
título de gratificação, que dependia de avaliação pessoal e institucional. Em
1º de janeiro de 2015, um auditor do trabalho ao ocupar o topo da tabela
receberá mensalmente R$ 22.516,88 (classe especial, padrão IV), em parcela
única por meio de subsídio. Ganho considerável, mesmo se a senhora descontar a
inflação do período!
Por tudo isso, senhora Ingrid
Berger, peço que reveja alguns conceitos e perceba a partir desses
esclarecimentos que, assim como os nordestinos, a senhora também é uma
beneficiária das políticas praticadas por esse governo da presidenta Dilma.
Minha esperança é que, com Dilma permanecendo na Presidência da República,
nordestinos continuem se beneficiando, mas também auditores fiscais do trabalho
continuem sendo valorizados com salários cada vez mais condizentes com a reponsabilidade,
a expertise e a competência que são exigidas de quem ocupa um cargo tão
importante para o Estado, como é o caso da senhora.
Respeitosamente,
Tarciano
Ricarto
P.S.: Estendo o apelo desta carta a todos os
servidores públicos federais, em especial aos auditores fiscais do trabalho e
aos auditores fiscais da Receita Federal do Brasil, que têm a mesma tabela
remuneratória e passaram pelo mesmo processo de valorização da carreira durante
os governos Lula e Dilma. Ressalto também o importante papel das entidades
representativas dessas categorias, que lutaram por reconhecimento e melhores
salários, mas destaco, convictamente, que se não fosse a visão de Estado
praticada pelos governos do PT, com Lula e Dilma, elas jamais teriam logrado a
maioria das reivindicações que hoje são realidade.
P.S.2: Os
dados sobre remuneração usados no texto são públicos e podem ser acessados nos
links abaixo:
http://www.planejamento.gov.br/secretarias/upload/Arquivos/servidor/publicacoes/tabela_de_remuneracao/tab_rem_02/tab_10_dez2002.pdf
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/Lei/L11890.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Lei/L12808.htm
VIOMUNDO 09 de outubro de 2014 13:09
Adaptado pelo Blog do SINPROCAPE 09.10.2014 15h49m
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