DIFERENÇAS E VULNERABILIDADES DE DILMA E AÉCIO
por Luis Nassif
Os
debates entre Dilma Rousseff e Aécio Neves têm explicitado vulnerabilidades de
dois projetos de governo: o modelo Aécio não tem o menor compromisso com
o social; o modelo Dilma, pouca sensibilidade com o empresarial.
Confiram-se alguns episódios, visíveis no último debate da TV
Record:
Dilma acusou o governo FHC de ter proibido a criação de escolas
técnicas. Aécio explicou que o decreto não proibia: apenas exigia que, para
criar escola técnicas, houvesse parceria com estados e setor privado. Pode-se
selecionar o argumento que quiser. Interessa o resultado final: apenas 14
escolas técnicas construídas no período FHC contra 422 no período Lula-Dilma.
O Bolsa Família chegou pronto ao governo FHC. Aprovado no
Senado, com votos de ACM a Eduardo Suplicy, o projeto de lei planejava
universalizar a renda mínima para as famílias que viviam na extrema pobreza.
FHC vetou, alegando que feria a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). O
orçamento continuou comprometido com pagamento de juros que excediam qualquer
limite de bom senso.
A ideia original do Reuni (Reestruturação e Expansão das
Universidades Federais) foi apresentada pela SBPC (Sociedade Brasileira para o
Progresso da Ciência) inicialmente MInistro Paulo Renato de Souza, no governo
FHC. Não saiu da gaveta.
***
Já na área econômica o plano de governo de Aécio Neves recorreu
a especialistas do setor privado ligados ao partido. Antes dele, o de Marina
Silva foi montada com contribuição de diversos setores, trazendo ideias novas e
novos conceitos.
O plano de governo de Dilma recorreu aos próprios quadros do
governo e fechou os olhos a propostas de fora. Em um momento em que o grande
desgaste da política econômica é a falta de discernimento e de clareza fiscal
para a concessão de subsídios, o Ministro Guido Mantega prosseguiu seu périplo.
***
Há uma diferença básica entre os modelos de gestão de ambos os
lados.
Dilma resiste às concessões políticas. Grande parte do seu
desgaste decorreu do enfrentamento das pressões do suspeitíssimo deputado
fluminense Eduardo Cunha - que anunciou apoio a Aécio e disputa o comando do
PMDB com Michel Temer. Mas o caminho encontrado foi fechar-se, entregando
MInistérios-chave a pessoas de sua confiança que não estavam à altura do cargo.
Não soube discernir pressões legítimas de maracutaias.
Aécio é seguidor das práticas políticas convencionais. Seus
acordos políticos acabaram comprometendo a administração de um grande
gestor, seu sucessor Antonio Anastasia, inclusive naquela que poderia ser
a vitrine do seu governo: a saúde.
***
Há diferenças também na maneira de encarar a economia.
No governo FHC - e na proposta de Aécio - a Fazenda voltará a
ser o centro das políticas públicas. Foi essa mesma subordinação - e falta de
sensibilidade social - que fez FHC abdicar do Bolsa Família, do Prouni, do
Reuni, mesmo tendo em sua própria casa uma figura pública da dimensão de dona
Ruth.
Da parte de Dilma, Fazenda e Tesouro tornaram-se instrumentos da
vontade pessoal da presidente. Embora para bons propósitos - gastos sociais e
incentivos à produção - sua atuação autocrática espalhou a desconfiança no
setor empresarial.
JORNAL GGN 21 de outubro de 2014 06:00
Adaptado pelo Blog do SINPROCAPE 21.10.2014 07h51m
Nenhum comentário:
Postar um comentário