AÉCIO INSISTE EM CORRUPÇÃO;
DILMA LEMBRA AEROPORTO, NEPOTISMO E LEI SECA
Agressividade marca
segundo embate. Tucano chama petista de 'incompetente' e 'conivente' com
desvios, e presidenta lança nova pegadinha ao falar de desrespeito à Lei Seca
Com temas repetidos, o segundo debate entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio
Neves (PSDB) foi marcado pela subida de tom nas acusações pessoais e pela
escolha da corrupção como assunto central. De um lado o tucano acusou a
presidenta de “conivente” com malfeitos e de “incompetente” na
administração pública durante o encontro de hoje (16) no SBT. De outro, a
candidata à reeleição levantou nova pegadinha ao falar sobre o respeito à Lei
Seca, o que irritou o adversário, e elencou casos de corrupção envolvendo tucanos.
Aécio buscou tom mais agressivo logo na pergunta inicial, ao falar sobre
denúncias de corrupção na Petrobras, insinuando que a petista trabalhou para
acobertar casos de desvios. “Ou a senhora foi conivente, ou a senhora foi
incompetente para cuidar da maior empresa brasileira.”
Dilma voltou a abordar diferenças entre PT e PSDB no que se refere ao
campo moral, avaliando que nas administrações dela e de Luiz Inácio Lula da
Silva houve uma mudança de comportamento, com liberdade para os órgãos de
investigação e de processamento das denúncias. “Quero dizer para o senhor:
tenho um compromisso diferente. O meu compromisso é investigar e punir. Aqueles
governos que não investigam, não acham”, afirmou, acrescentando que os
escândalos envolvendo tucanos não têm presos porque o trabalho de apuração foi
engavetado.
Em outro momento em que se tratou do caso da Petrobras, Dilma falou a
Aécio sobre a denúncia de que o ex-presidente do PSDB Sérgio Guerra intermediou
o pagamento de propinas a parlamentares tucanos para que esvaziassem uma
comissão parlamentar de inquérito (CPI). “É muito fácil o senhor ficar fazendo
denúncias. Quando a gente verifica que o PSDB recebeu propina para esvaziar uma
CPI, o que importa? Importa investigar.”
Em uma de suas perguntas, Dilma levantou a questão do nepotismo,
acusando Aécio de nomear irmãs, tios e primos durante seu governo em Minas
Gerais, de 2003 a 2010. O tucano procurou comparar o caso ao uso de informações
pessoais de Lula por Fernando Collor nas eleições de 1989, e ouviu da petista
que se trata de uma questão bem diferente por envolver o uso da máquina pública
em proveito individual de parentes.
Aécio afirmou que sua irmã, Andréa, era voluntária no governo mineiro, e
deixou de responder aos demais casos. “Seu irmão, candidata, foi nomeado pelo
prefeito Fernando Pimentel em 20 de setembro de 2003 e nunca apareceu para
trabalhar. Essa é a grande verdade. Não queria trazer esse tema aqui”, rebateu.
Em mensagem postada no Twitter, o ex-prefeito de Belo Horizonte,
Fernando Pimentel, informou que Igor Rousseff foi assessor especial. “É
advogado e trabalhou com seriedade e honradez." Já Dilma afirmou a Aécio
que a legislação sobre nepotismo proíbe o emprego de parentes em uma mesma
esfera de governo, o que não é seu caso. “A sua irmã e o meu irmão têm de ser
regidos pela mesma lei”, afirmou. “Todo mundo sabe que ela era responsável pela
destinação das verbas em todas as questões relativas à propaganda. Quanto vocês
colocaram nas rádios e no jornal que vocês possuem?”
A exemplo do que ocorreu no primeiro debate, quando levantou o tema da
violência contra a mulher, Dilma elencou uma questão pessoal delicada de seu
adversário ao falar sobre a importância da Lei Seca, sancionada por ela em 2012
para endurecer a punição a motoristas flagrados dirigindo bêbados ou drogados.
“Queria saber o que o senhor acha, e como o senhor vê essa questão da Lei Seca.
E se todo cidadão que for acionado, que for solicitado, deve se dispor a fazer
exame de álcool e droga”, disse, sem mencionar a recusa de Aécio a ser
submetido a teste quando parado em uma blitz no Rio de Janeiro.
“A senhora traz nesse debate, talvez pelo desespero, e tenta deturpar um
tema que tem que ser colocado com absoluta clareza. Eu tive um episódio sim, e
reconheci, candidata, eu tenho uma capacidade que a senhora não tem. Eu tive um
episódio que parei numa Lei Seca porque minha carteira estava vencida e ali
naquele momento inadvertidamente não fiz o exame e me desculpei disso”, rebateu
o tucano.
Na resposta, Dilma desconheceu novamente a questão pessoal do
adversário. “Acho muito importante a Lei Seca para o Brasil. Acho que o senhor
está tentando diminuí-la. Sabe por quê? No Brasil, todos os dias, todas as
semanas tem gente morrendo quando o motorista dirige embriagado ou drogado.”
No segmento das alfinetadas pessoais, Dilma levantou ainda o estilo de
vida de Aécio ao ser questionada sobre a insistência em abordar questões
relativas ao governo do PSDB em Minas Gerais. O tucano acusou a petista de
desconhecer o estado e de se preocupar excessivamente com os resultados da
gestão do PSDB, insinuando que ela teria preferência por disputar o governo
mineiro ao Planalto. “Não coloque Minas Gerais como sendo o senhor”, afirmou a
petista. “O senhor não é Minas Gerais. Eu nasci em Minas, aliás antes do
senhor. Se é por isso, nasci antes do senhor. Saí de Minas não foi para passear
no Rio, candidato, foi por causa da ditadura.”
Em tema que surgiu ao longo de todos os debates, do primeiro e do
segundo turnos, Dilma e Aécio trocaram farpas a respeito da construção do
aeroporto de Cláudio, na região metropolitana de Belo Horizonte, erguido em
terras de um tio do tucano usando dinheiro do governo estadual. “É muito triste
ver uma presidente da República mentindo. O aeroporto de Cláudio foi construído
numa área desapropriada pelo estado”, afirmou o candidato do PSDB.
“No caso do aeroporto de Cláudio o senhor deve, sim, explicação. Deve
explicação porque construiu um aeroporto dentro de sua propriedade”, rebateu a
petista. “Uma das coisas mais importantes do país é que não podemos mais
tolerar o uso de bens públicos para beneficiar A, B ou C privadamente. Essa é
uma questão que nenhum candidato à presidência da República pode se furtar a
responder.”
Economia
Tema relevante no primeiro encontro, e historicamente centro de
divergências entre PT e PSDB em todas as disputas presidenciais desde 1995, a
economia não foi protagonista desta vez. A principal questão se deu em torno do
combate à inflação, com a acusação do tucano de que o atual governo perdeu o
controle sobre os preços dos itens básicos de consumo. “Agora há pouco a
senhora disse que a inflação não é um problema do governo, é problema sazonal,
e eu acho que não é, por isso, comigo, tolerância zero com a inflação”, disse.
Já a petista afirmou que há uma ideia de manipular o sentimento da
população para criar uma sensação negativa nesta seara. “Existe uma tentativa
de criar um clima de quanto pior, melhor. Essa tentativa vocês fizeram na Copa,
dizendo que não ia ter Copa, que não tinha condições. Ficou claro que o Brasil
fora de campo estava muito bem preparado”, disse, atribuindo a elevação de
preços a um problema provocado pela seca que afeta parte do país nos últimos
meses.
A petista criticou ainda a proposta da equipe econômica de Aécio de
levar a inflação para uma taxa de 3% ao ano – nos últimos anos o IPCA, que é a
medição oficial, tem ficado próximo do teto estabelecido pelo Banco Central, de
6,5%. “Não vou combater inflação com os métodos do senhor, que é desempregar,
arrochar e desinvestir”, disse. “Para ter inflação de 3% vamos ter uma taxa de
desemprego de 15%. Ele está se queixando de uma taxa de desemprego de 5%.”
O próximo encontro entre Dilma e Aécio será domingo, na Record. Depois
disso, eles têm mais um debate, o último antes da votação do dia 26, organizado
pela Globo.
BRASIL 247 16 de outubro de 2014 20:26
Adaptado pelo Blog do SINPROCAPE 17.10.2014 06h29m
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