POR QUE A MÍDIA ESTÁ TÃO EMPENHADA EM ELEGER
AÉCIO?
por Paulo Nogueira
Você pode se perguntar: por que a
mídia apoia tão intensamente Aécio?
Uma visão
mais romântica traria a seguinte resposta: porque há uma identidade entre a
ideologia de Aécio e a dos donos das grandes companhias jornalísticas.
Mas a
verdade é bem menos romântica.
Eleger
Aécio, um amigo íntimo dos barões da imprensa, representa esplêndidas
oportunidades econômicas.
Nada
contra isso – não fosse o fato de que estas oportunidades são à base de
dinheiro público.
Dinheiro
seu, meu, de todos nós.
Primeiro,
e acima de tudo, os bilhões da publicidade federal. Aqui, o PT cometeu um grande
pecado, ao não fazer mudanças que beneficiassem a sociedade, e não perpetuassem
privilégios de quatro ou cinco famílias.
No mundo
dos negócios, você usa a expressão “base zero” para designar orçamentos que vão
ser inteiramente refeitos.
Se isso
fosse feito na publicidade federal, você se faria logo perguntas como a
seguinte: faz sentido colocar 150 milhões de reais por ano no SBT?
Claro que
não. Sobretudo na Era Digital, para a qual as estatais demoraram uma eternidade
para acordar.
Mas a
questão só foi aparecer quando Rachel Sheherazade defendeu entusiasmadamente
justiceiros.
Numa
concessão pública, e numa emissora bancada por dinheiro do contribuinte,
Sheherazade contribuiu histericamente, todos os dias, para a causa da
iniquidade no Brasil.
Sheherazade
é símbolo de algo que vai muito além dela e do SBT. É um galho de uma árvore.
O mesmo
quadro, amplificado, se repete na Globo. São 600 milhões de reais que, no fim,
sustentam um jornalismo feito para manter as raízes que fizeram do Brasil um
campeão da desigualdade.
É uma das
maiores ironias do jornalismo político nacional que personagens como Jabor,
Merval e tantos outros do gênero sejam, indiretamente, pagos com dinheiro
público.
Compare
tudo isso com o que faz a Fox de Murdoch nos Estados Unidos. O teor é de
direita, mas nem a Fox é uma concessão e nem recebe fabulosas injeções de
dinheiro público, pela publicidade.
Voltemos
ao SBT, apenas porque começamos por lá. A partir da base zero, qual seria a
quantia justa, em propaganda federal, a ser colocada na emissora de Sílvio
Santos?
Um terço,
um quarto do que vem sendo colocado? Campanhas de utilidade pública, tudo bem.
Uso sensato de verbas em estatais que competem no mercado, como o Banco do
Brasil.
E pronto.
Não mais que isso.
Você
romperia, assim, o duto que conduz, há décadas, dinheiro público para as
grandes empresas jornalísticas – e logo para as contas pessoais de seus donos.
Não é à toa que a família Marinho é a mais rica do Brasil.
Você
daria também um choque de capitalismo na mídia, que sempre dependeu
inteiramente do Estado para se sustentar. Não apenas com publicidade federal,
estadual e municipal, mas também com empréstimos a juros maternais no BNDES e
outros expedientes como a venda de livros e isenções fiscais. (Não incide
imposto, para ficar num caso, sobre o papel usado em jornais e revistas.)
E tão
importante quanto tudo que foi dito atrás: as empresas jornalísticas deixariam
de ter um interesse tão brutal em quem está no Planalto.
Consequentemente,
todas essas armações que se repetem quando bate medo nos donos da mídia de que
os privilégios acabariam – porque já não faria diferença se o candidato A ou B
se elegesse.
A
sociedade apoiaria uma reforma no uso da publicidade governamental porque seria
a principal beneficiária disso.
Com
Dilma, talvez se faça alguma coisa para reduzir a dependência da mídia em
relação ao governo, ou talvez não.
Com
Aécio, certamente nada se fará.
É por
isso que as empresas jornalísticas estão tão empenhadas em eleger Aécio.
DCM 12 de outubro de 2014
Adaptado pelo Blog do SINPROCAPE 13.10.2014 05h20m
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