A MELHOR NOTÍCIA DAS ELEIÇÕES É O ENTERRO DA
ERA SARNEY NO MARANHÃO
Se há uma grande, alvissareira notícia nestas
eleições é o enterro simbólico de José Sarney e sua turma no Maranhão. Flávio
Dino, do PC do B, teve 63,54% dos votos, contra 33,68% do sarneyzista Lobão
Filho, do PMDB
por Kiko Nogueira
Em 48 anos de comando do clã no
MA, seu legado é uma tragédia: o menor IDH do Brasil, miséria, taxa de
analfabetismo em torno de 40% e uma rebelião num complexo penitenciário que
caberia num filme B de terror.
Houve um
governador de oposição desde 1966. Foi Jackson Lago, eleito em 2006. Em 2009,
seu mandato foi cassado pelo TSE para Roseana Sarney assumir.
Nestas
cinco décadas, a família deu o próprio nome e o de aliados a tudo: municípios,
escolas, pontes, rodovias, fóruns, avenidas, hospitais, viadutos. Como
gafanhotos, deixaram o estado à míngua. (Recentemente, um amigo pegou um Land
Rover para fazer uma viagem pelo interior do Nordeste. No Maranhão, contou que
crianças levantavam um cartaz escrito “fome” na beira da estrada).
Lobão
Filho chegou a deblaterar que tinha “195 prefeitos dos 217”, o dobro de tempo
de televisão e que era “muito mais preparado”. Com tudo isso, foi derrotado
principalmente pelos defeitos do velho padrinho.
Não houve
economia de golpes baixos. Em seu jornal, José Sarney escreveu que Dino
“insultava e vilipendiava” o Maranhão. “Tudo hipocrisia e desejo de que sejamos
Venezuela. O Maranhão comunista é a mudança que desejam”, apelou.
Também
apareceu um vídeo em que um detento do presídio de Pedrinhas acusava Dino de
ser mandante de um assalto. O assaltante confirmaria, mais tarde, que recebera
uma promessa de ganhar dinheiro e proteção em troca da armação.
Flávio
Dino é advogado e professor e atuou no movimento estudantil. Tem 46 anos. Em
2010, havia perdido o governo para Roseana Sarney. É o primeiro governador
eleito pelo PC do B. Após o resultado, declarou que sua vitória é “grandiosa
pelos que aqui não estão, como quilombolas, quebradoras de coco, jovens,
conselheiros tutelares, pelas pessoas que vi no Maranhão sem ter o que calçar,
sem ter o que comer, em casas de taipas”.
É um eco
de um discurso parecido. Em 1966, Glauber Rocha filmou o jovem José Sarney num
comício. Sarney acabara de se eleger para o governo combatendo os coroneis. “O
Maranhão não quer a miséria, a fome, o analfabetismo e as mais altas taxas de
moralidade infantil, de tuberculose, de malária”, gritava, já com o bigodão
insofismável.
De certa
forma, ele foi um visionário: descreveu ali as condições de sua terra com meio
século de antecipação, devastada por ele mesmo.
Flávio
Dino não fará milagre, mas o fato de ter começado a enterrar um câncer que
destrói o Maranhão desde os anos 60 é um bom começo.
DCM 05 de outubro de 2014 05:45
Adaptado pelo Blog do SINPROCAPE 06.10.2014 07h00m
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