IBOPE E VOX POPULI
CONTRASTAM COM DATAFOLHA
por Helena Sthephanowitz
Uma tendência é certa nas últimas pesquisas
eleitorais: Marina Silva (PSB) está em queda, Dilma Rousseff (PT) em ascensão e
Aécio Neves estagnado
O que traz incertezas quanto à
consistência dos levantamentos são diferenças entre alguns institutos, acima da
margem de erro. Duas pesquisas, uma do Vox Populi e outra do Datafolha, foram
feitas exatamente nos mesmos dias, entre 8 e 9 deste mês, e encontraram alguns
números contrastantes além das faixas de tolerância. Quem estaria certo?
O
tira-teima foi outra pesquisa, do Ibope, contratada pela Confederação Nacional
da Indústria (CNI) e divulgada nesta sexta-feira (12). Foi encerrada no dia 8,
data bem próxima das outras, e registrou uma tendência mais parecida com o Vox
Populi, o que deixa o Datafolha em saia justa.
Em
relação ao primeiro turno, as intenções de votos em Aécio estão idênticas (15%)
nos três institutos. Em Dilma estão dentro da margem de erro (36% e 39%), mas
no caso de Marina, o Vox Populi registrou 28%, enquanto o Datafolha 33% para a
candidata do PSB. São 5 pontos de diferença, acima do limite da margem da erro,
que é de 2,2 pontos no Vox Populi e 2% no Datafolha. O Ibope registrou 31%, intermediário
entre os dois institutos, mas foi a campo na véspera das outras pesquisas.
Logo, se a tendência era de queda de Marina e oscilação para cima de Dilma,
tende a coincidir mais com a apuração do Vox Populi.
Outra
divergência foi nos indecisos. O Vox Populi destoou com 13%, enquanto o
Datafolha registrou 7% e o Ibope 5%.
Na
sondagem de segundo turno, todos institutos registraram Dilma chegando ao
empate técnico com Marina, mas com números diferentes. Dilma teve 41% no Vox
Populi, 42% no Ibope e 43% no Datafolha, resultado idêntico dentro da margem de
erro. Marina teve 42% no Vox Populi e 43% no Ibope, o que coloca os 47% no
Datafolha em dúvida.
Apesar de
alguns números divergirem acima da margem de erro, a diferença é pequena e pode
de fato ocorrer dentro da probabilidade estatística.
Mas os
números do Vox Populi e Ibope são ainda convergentes quando analisamos os votos
inválidos e indecisos. No primeiro turno, o Vox Populi registra 7% de intenção
de votos nulos/branco/ninguém. No segundo, esse número sobe para 10%. É um
resultado esperado. Parte dos eleitores de Aécio Neves (PSDB) ou de Luciana
Genro (Psol), por exemplo, pode dizer que anula o voto caso seu candidato não
passe para o segundo turno. A mesma lógica acontece no Ibope. Nulos/Branco são
8% no primeiro turno e 10% no segundo. No caso do Datafolha, registram-se tanto
no primeiro como segundo turno 6%. Possível, mas pouco provável.
O que
mais coloca em dúvida a pesquisa do Datafolha são os números extremamente
baixos de indecisos e nulos no segundo turno. Somados dão 10% em segundo turno,
contra 17% do Vox Populi e 15% do Ibope.
Quando o
candidato do PSB era Eduardo Campos, os votos nulos e indecisos eram maiores.
Com a entrada de Marina Silva na disputa, ela capturou a maioria destes votos
em um primeiro momento. Atraindo os holofotes para si, teve suas contradições
expostas e passou a perder votos. É de se esperar que parte dos votos da
“antipolítica”, que antes iria anular o voto, volte a fazê-lo.
E também
é de se esperar que parte dos votos sem certeza que pendiam para Marina, migrem
para outros candidatos à medida que o eleitor volúvel compare as propostas e
conheça melhor a candidata. O que leva Marina a cair é ficar mais conhecida.
Suas posições que agradam uns, desagradam outros. Inicialmente ambos viam nela
a ideia de votar naquilo que julgavam se identificar, sem conhecê-la direito.
Quando
Marina tenta neutralizar críticas de inexperiência, dizendo que foi vereadora,
deputada, senadora duas vezes e ministra, essa longevidade política já espanta
parte do eleitorado da chamada “nova política”. Marina não é tão novidade
assim. Ela conviveu “com tudo isso que está aí” por mais de duas décadas
ocupando cargos políticos.
Quando
ela tenta neutralizar a falta de base de sustentação política, que levou à
renúncia de Jânio Quadros e ao impeachment de Collor, dizendo que vai governar
com todos os partidos, mesmo dizendo que com “os melhores”, o eleitor que
gritava “sem partido” em junho de 2013, já não a vê como opção. E aquele
consciente de que sem uma reforma política a governabilidade se faz
obrigatoriamente com quem é eleito no Congresso Nacional, vê incapacidade ou
falsidade.
Quando
ela volta atrás no programa de governo depois de quatro tuitadas do Pastor
Silas Malafaia, ela desagrada e perde a confiança de outros setores. Marina se
complica tendo declarações do presente desmentidas por atos do passado, como na
questão da votação na CPMF, dos transgênicos, do agronegócio, ou ao ter
posição contraditória sobre o pré-sal, que ela trata como um mal que tem de ser
aturado e combatido. Em vez de azucrinar o pré-sal brasileiro, deveria mirar no
Canadá por extrair petróleo de areias betuminosas no Ártico, em um processo
muito mais poluente.
Quando
ela procura varrer para baixo do tapete o escândalo da compra por empresas
laranjas do avião de campanha dela e de Eduardo Campos, perde a aura de
paladina da ética. Também não combina com a tal “nova política” manter em
segredo quem paga por suas palestras. Marina não é uma empresária que entrou na
política. É uma política que virou empresária para se manter candidata desde
2010. Quer queira, quer não, o eleitor desconfiado sente cheiro de “velha
política” quando políticos escondem de onde vem suas fontes de renda, mesmo em
atividades privadas e mesmo que não tenha necessariamente nada ilegal. O
próprio clima inquisicional criado na imprensa tradicional para fazer o eleitor
odiar a política, em vez de reformá-la, estimula essa desconfiança. Clima este
que a própria Marina estimulou.
Ela perde
votos quando usa dois pesos e duas medidas no trato da corrupção. Uma medida
para pré-condenar Dilma pelos atos de terceiros, no caso um ex-diretor da
Petrobras, funcionário de carreira, e usa outra medida para pedir o benefício
da dúvida para Eduardo Campos, supostamente envolvido pela delação premiada
deste mesmo ex-diretor.
O eleitor
fica com um pé atrás ao ver o excessivo vínculo ao banco Itaú, pela influência
da banqueira Neca Setúbal, inclusive através de patrocínios financeiros para as
atividades privadas da candidata. Piora o discurso de Marina repetir bordões
lobistas do mercado financeiro, tal como ceder a propostas de independência do
Banco Central.
Marina
começou tentando agradar a todos, apelando para sentimentos que são unânimes
tais como governar com os bons, ser a favor de tudo que é do bem, e um monte de
simplismos que todo mundo, desde criança, concorda. Mas na hora de ser obrigada
a deixar de discutir o sexo dos anjos, e se posicionar sobre problemas reais do
Brasil, ela perde votos ou de um lado ou de outro. E ainda corre o risco de, ao
tentar agradar a todos, não agradar ninguém.
Daí ser
estranho o Datafolha ainda ostentar índices tão altos para Marina, como se ela
ainda fosse unanimidade entre quem está contrariado com qualquer coisa que
acontece no Brasil.
RBA 12 de setembro de 2014 às 19:33
Adaptado pelo Blog do SINPROCAPE 13.09.2014 05h31m
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