UM NOVO OLHAR NECESSÁRIO
PARA O NOVO MUNDO DO TRABALHO
O que se tem é a realização crescente do trabalho
imaterial em qualquer local proporcionado pelo uso recorrente das tecnologias
de comunicação e informação inovadoras, capaz de manter o ser humano plugado no
trabalho heterônomo 24 horas por dia
por Marcio Pochmann
Concomitante com a passagem para o século 21 observa-se a
afirmação de mudanças importantes nas modalidades de organização do trabalho.
Um delas – talvez a principal –resulta da emergência da economia dos
serviços queredefine as categorias básicas como o capital, valor e trabalho.
Esta última categoria, aliás, termina por incorporar crescentemente o saber em
novas bases, tornando antiquados os atuais sistemas de educação e formação
laboral.
Com a elevação das competências laborais e a possível ampliação da
expectativa de vida para próximo de 100 anos, expande-se a demanda pela
formação por toda a vida e faz-se romper a lógica educacional do século passado
– comprometida somente com as fases mais precoces da vida humana (crianças,
adolescente e alguns jovens). Adiciona-se a isso o avanço da criação dos postos de trabalho no setor terciário
das economias (trabalho imaterial), cuja natureza formativa diverge da inserção
e trajetória laboral contínua no interior das atividades primárias e
secundárias da produção (trabalho material).
As novas formas de organização da produção de bens e serviços
extrapolam o exercício laboral para além do exclusivo local de trabalho. Ou
seja, a realização crescente do trabalho imaterial em qualquer local
proporcionado pelo uso recorrente das tecnologias de comunicação e informação
inovadoras, capaz de manter o ser humano plugado no trabalho heterônomo 24
horas por dia.
Não obstante o avanço tecnológico gerador de ganhos importantes de
produtividade material e imaterial, aumenta a pressão por maior tempo de uso do
trabalho para a sobrevivência. Trata-se do paradoxo contemporâneo concentrado
na falta de sintonia entre a possibilidade da menor dimensão do tempo de
trabalho heterônomo e o avanço das novas doenças do trabalho originadas pela
intensificação do trabalho nos tradicionais locais de emprego da mão de obra e
extensão das jornadas laborais em outras localidades (em casa ou em espaços
públicos) impostas pela combinação patronal das mudanças organizacionais com
inovações tecnológicas comunicacionais.
Em síntese, a emergência do
trabalho imaterial encontra-se associada
à intensificação e ao alargamento da jornada laboral frente à maior expectativa de vida. É nesse contexto de transformação do novo do mundo do trabalho que se deve reconsiderar a funcionalidade do atual sistema de
educação e formação laboral no Brasil.
Nesse sentido que vai
se constituindo uma agenda inovadora sobre o trabalho.
Se a aprendizagem, por
exemplo,torna-se cada vez mais o requisito necessário da inserção e sustentação
ascendente no trabalho, indaga-se a respeito do ingresso no mercado de trabalho por parte dos jovens antes de ter
completo o ensino superior.
Ao mesmo tempo, a aprendizagem se transforma em processo
recorrente ao longo da vida, não mais circunscrita à condição de criança,
adolescência e de alguns jovens.
Por conta disso, como reorganizar o sistema de ensino e
aprendizagem para o novo desafio de se estudar a vida toda?
Por fim, o tempo de trabalho. Na presença das novas tecnologias de
comunicação e informação, as ocupações de serviços tendem a se utilizar cada
vez mais e, por consequência, da extensão da jornada de trabalho, que se
manifesta cada vez maior por ser efetivada fora do local determinado do
trabalho.
Assim, a nova agenda do trabalho deve contemplar a existência de
aprendizagem ao longo da vida, ampliação do prazo de ingresso no mercado de
trabalho e menor jornada de
trabalho.
REDE BRASIL ATUAL 28 de novembro de 2014 15:34
Adaptado pelo Blog do SINPROCAPE 30.11.2014 05h45m
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