NÃO É PORQUE A ELEIÇÃO ACABOU QUE AÉCIO ESTÁ
LIVRE DE EXPLICAÇÕES SOBRE COISAS COMO O AEROPORTO E SUAS RÁDIOS
por Paulo Nogueira
O comportamento triunfal de Aécio
na dupla derrota – perdeu o Brasil e Minas nas eleições – é uma aberração.
O que Aécio deveria fazer – além
de dar expediente no Senado, coisa para a qual recebe um bom salário do
contribuinte – é explicar tudo que ficou malcontado em sua campanha.
Primeiro, o aeroporto de Claudio.
Não é porque a mídia o poupou, e as eleições passaram, que este caso está
resolvido.
Não está.
Até aqui,
ele não deu uma única explicação convincente. O máximo que fez, na campanha,
foi chamar Luciana Genro de leviana quando ela tocou no assunto.
Outro
ponto vital que exige transparência são os meios de comunicação de propriedade
da família Neves em Minas.
Em si, é
um absurdo um político ter rádios, o que aliás a Constituição – teoricamente –
proíbe.
A
proibição é driblada por políticos de baixa taxa de escrúpulos com diversas
gambiarras jurídicas de legalidade amoral. Uma delas é colocar um dono de
araque na papelada. Outra é você constar na documentação não como dono, mas
como sócio.
Que os
órgãos públicos não consigam impedir esse assalto à Constituição conta muito
sobre o que Darcy Penteado definiu como o maior problema do Brasil: um pequeno
grupo que trata de manter, a que preço for, mamatas e privilégios.
A questão
das rádios de Aécio tem um complicador que ficou em aberto.
Quanto o
governo de Minas, sob ele e depois sob seu pupilo Anastasia, colocou em
publicidade nelas?
A Folha
levantou esse ponto, mas – como tantas vezes ocorre com o jornal – frustrou os
leitores ao não fazer o serviço completo.
A Folha
simplesmente esqueceu o assunto.
Lembremos:
no comando das verbas publicitárias de Minas com Aécio estava a “voluntária”
Andrea Neves.
Ela que
trabalha muito sem ganhar nada, como disse Aécio, ao contrário do irmão de
Dilma, Igor.
Segundo
afirmou Aécio num debate, Igor “ganha muito para não trabalhar nada”.
Apenas
depois das eleições o Estadão se dignou a ver como vivia Igor, o alegado
marajá. O jornal encontrou ali uma espécie de Mujica, um homem simples, dono de
um carro velho numa cidadezinho do interior, avesso a qualquer coisa que o
identifique com a irmã poderosa.
E mesmo
assim, com uma infâmia dessas, Aécio ainda ousou falar em “desconstrução” como
arma de campanha de Dilma – e não dele mesmo.
O debate
em torno da “desconstrução”, aliás, é uma das maiores estupidezes da política
nacional contemporânea.
Algum
candidato “constrói” o adversário? Elogia-o, enche-o de palavras generosas?
Ora,
faça-me o favor.
Marina, a
coitadinha, já chegou dizendo que os adversários eram a “velha política” e ela
a “nova”. O que é isso senão desconstruir?
Será uma
decepção se o novo governo de Minas não trouxer à cena informações que permitam
aos brasileiros conhecer melhor Aécio.
As rádios
da família e o dinheiro público posto nela, por exemplo.
Há ainda
um assunto particularmente complicado nos arredores de Aécio: o helicóptero com
450 quilos de pasta de cocaína de propriedade de um de seus maiores amigos,
Perrela.
Ninguém é
culpado pelo que os amigos fazem, é verdade. Mas a sociedade tem que pelo menos
saber com clareza o que fazem os amigos diletos de candidatos à presidência.
Aécio, em
suma, tem muita coisa a explicar antes de posar como um herói da República do
alto de sua dupla derrota.
DCM 16 de novembro de 2014
Adaptado pelo Blog do SINPROCAPE 17.11.2014 07h13m
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