KOTSCHO:
DILMA MATOU DISCURSO DA OPOSIÇÃO
"A presidente fez o que devia: acima de
rótulos ou de siglas, nomeou três profissionais de competência reconhecida, com
o objetivo central de restabelecer um clima de confiança, tanto entre
investidores, aqui dentro e lá fora, como na sociedade dividida pela
campanha eleitoral", diz o jornalista Ricardo Kotscho; "O fato é que
Dilma deixou sem discurso esta turma do contra e setores do PT e da base aliada
inconformados com a ousadia da presidente em dar um cavalo de pau na economia
para colocar o navio novamente no rumo certo", avalia; ele, no entanto,
critica a escolha de Kátia Abreu para a Agricultura
O
jornalista Ricardo
Kotscho, avalia que a nova equipe econômica da presidente Dilma Rousseff,
capitaneada por Joaquim Levy, cumpriu uma missão também na política: matou o
discurso da oposição.
Leia,
abaixo, o artigo publicado no Balaio do Kotscho:
Por
Ricardo Kotscho
O
que eles queriam, afinal?
Que
Dilma deixasse tudo como está e nomeasse um companheiro revolucionário ou um
burocrata anódino para comandar a economia no seu segundo governo?
As
primeiras críticas feitas pelas oposições ao seu governo, à direita e à esquerda,
antes mesmo do anúncio oficial, mostram que a presidente Dilma Rousseff estava
certíssima ao montar sua nova equipe econômica com Joaquim Levy, na Fazenda,
Nelson Barbosa, no Planejamento, e mantendo Alexandre Tombini no Banco Central.
Já
que é impossível agradar a todos ao mesmo tempo, ainda mais num momento tão
convulsionado da vida nacional, a presidente fez o que devia: acima de rótulos
ou de siglas, nomeou três profissionais de competência reconhecida, com o
objetivo central de restabelecer um clima de confiança, tanto entre
investidores, aqui dentro e lá fora, como na sociedade dividida pela
campanha eleitoral.
A
primeira entrevista coletiva do novo trio econômico, que ainda não tem data
para tomar posse, me passou uma sensação de tranquilidade, de saber o que estão
falando e o que pretendem fazer para que o país volte a crescer sem atropelos,
sem soluções mágicas, sem pacotes, sem sustos.
Quem
pode ser contra o que disse Joaquim Levy, o chefe da nova equipe, que trabalhou
na gestão econômica de Fernando Henrique Cardoso e foi Secretário do Tesouro no
primeiro governo Lula, destacando-se tanto nas funções públicas como na
iniciativa privada? Veja suas primeiras declarações:
"Temos
a convicção de que a redução das incertezas em relação às ações do setor
público sempre é ingrediente importante para a tomada de risco pelas empresas,
trabalhadores e famílias brasileiras, especialmente as decisões de aumento de
investimento (...) Essa confiança é a mola para cada um de nós nos aprimorarmos
e o país crescer".
"A
gente vai ver no dia a dia como a autonomia no cargo ocorre. Mas evidentemente
quando uma equipe é escolhida é porque há confiança. Não tenho indicação
nenhuma em contrário. O equilíbrio da economia é feito para garantir o avanço
na área social que nós alcançamos".
"O Ministério da Fazenda reafirma o compromisso com a
transparência de suas ações e manifesta o fortalecimento da comunicação de seus
objetivos e prioridades e a comunicação de dados tempestivos, abrangentes e
detalhados que possam ser avaliados por toda a sociedade, incluindo os agentes
econômicos".
"Nossa
prioridade tem que ser o aumento da taxa de poupança. Aumentando sua poupança,
especificamente o primário, o governo contribuirá para que os outros agentes de
mercado e as famílias sigam o mesmo".
É
importante registrar que, antes de conceder esta entrevista, Joaquim Levy e
seus dois colegas de equipe almoçaram com a presidente Dilma Rousseff e com ela
acertaram os ponteiros. Quem já joga num confronto entre os novos ministros e
deles com a presidente da República, como os "analistas
independentes" do apocalipse, que sempre aparecem nestas horas para dar
fundamento "científico" aos colunistas do pensamento único do
Instituto Millenium, podem ir tirando o cavalinho da chuva.
Quem
define política de governo e dá as ordens é quem senta na cadeira de presidente
no terceiro andar do Palácio do Planalto, não os eventuais ocupantes de
ministérios, aliás, por ela escolhidos. Se Dilma nomeou estes três é porque
confia neles e não tem esta besteira de que daqui a dois anos, feito o ajuste
fiscal com um "saco de maldades", vai trocar a equipe e voltar a ser
tudo como era antes. Isso é papo de quem continua jogando no quanto pior melhor
e não aceita o resultado das urnas, achando que nada neste governo pode dar
certo, para ver se fatura algum na especulação financeira.
O
fato é que Dilma deixou sem discurso esta turma do contra e setores do PT e da
base aliada inconformados com a ousadia da presidente em dar um cavalo de pau
na economia para colocar o navio novamente no rumo certo. Por falar nisso, o
economista Joaquim Levy também é engenheiro naval e sua primeira missão,
certamente, será consertar os rombos no casco.
Mais
do que das palavras e intenções, gostei da cara boa dos três, gente comum capaz
de sorrir mesmo em horas graves, falando coisas que a gente entende, sem querer
mascarar as dificuldades, mas também sem nos tirar o ânimo para
enfrenta-las. Por isso, fiquei mais otimista ao olhar para 2015, na contramão
dos profetas do fim do mundo.
Kátia
Abreu, não
Se
Dilma Rousseff provou que estava certa na indicação de Levy, Barbosa e
Trombini, o mesmo não se pode dizer da anunciada nomeação de Kátia Abreu para o
Ministério da Agricultura. Tem coisa que pode e tem coisa que não pode. Kátia
Abreu não pode, pelo conjunto da obra pregressa. Seria o mesmo, por
exemplo, que nomear Paulo Maluf para o Ministério das Cidades ou lhe
entregar as chaves do Banco do Brasil.
Parceira
de Ronaldo Caiado e seus coronéis na famigerada União Democrática Ruralista
(UDR) dos tempos da ditadura militar, que de democrática nada tinha, Kátia
Abreu sempre esteve lutando do lado exatamente oposto aos que, no PT e fora
dele, defendem como razão de viver a reforma agrária, a proteção do meio
ambiente, a agricultura familiar, a demarcação das terras indígenas e dos
quilombolas.
A
política também é feita de símbolos _ e Kátia Abreu, hoje presidente da
Confederação Nacional da Agricultura, simboliza o que há de mais reacionário,
intolerante e autoritário neste importante setor da vida nacional. Não é
possível que Dilma não encontre outro representante do agronegócio para ocupar
este ministério. Alguém com o perfil de Roberto Rodrigues, por exemplo, um
líder realmente democrático e capaz em seu ofício, que fez campanha para José
Serra, em 2002, foi ministro da Agricultura de Lula, a partir de 2003, e
agora apoiou Aécio Neves. Não tem problema. Como dizia o velho amigo José
Alencar, vice de Lula, um sábio sem diploma, o importante não é a cor do gato,
mas que ele seja capaz de caçar o rato.
Governo
tem que procurar escolher os mais competentes e mais representativos em
cada área, sem se preocupar com críticas de adversários nem muxoxos de aliados.
Pode até descobrir depois que errou, mas não pode já começar errando. Ainda
está em tempo de Dilma pensar melhor neste assunto.
Vida
que segue.
BRASIL 247 29 de novembro de 2014 07:42
Adaptado pelo Blog do SINPROCAPE 30.11.2014 05h17m
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