TRISTE PRÁTICA
EM 20
ANOS, FISCALIZAÇÃO SE CONSOLIDA E RESGATA 49 MIL DE TRABALHO ESCRAVO
Total
de operações desde 1995 soma 1.785 em 4.100 estabelecimentos. Chefe da
fiscalização destaca que ações agora também atingem setor urbano e até navios
A primeira operação do grupo móvel de
fiscalização, referente a trabalho escravo, completará 20 anos nesta
sexta-feira (15). Era uma equipe com dez pessoas, incluindo o atual
procurador-geral do Trabalho, Luís Camargo. Durou quatro dias e percorreu
carvoarias em três municípios em Mato Grosso do Sul. Duas décadas depois, o
Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) informou que as operações de
fiscalização no país resgataram, até agora, 49.353 trabalhadores de condições
análogas às de escravidão. Foram inspecionados 4.100 estabelecimentos, em 1.785
operações, que resultaram em 48.720 autos de infração lavrados e R$ 92,6
milhões em indenizações. O grupo móvel atravessou três governos (FHC, Lula e
Dilma) e tornou-se política de Estado.
A prática adquiriu outras características
nesse tempo. Segundo o chefe da Divisão de Fiscalização para Erradicação do
Trabalho Escravo do MTE, Alexandre Lyra, as ações – que incluem o Ministério
Público do Trabalho (MPT), Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e
Procuradoria-Geral da República, entre outros órgãos públicos – começaram a ser
feitas, basicamente, na área rural. Chegaram ao meio urbano e agora também já
ocorreram até em navios e transatlânticos que fazem cruzeiros, que estariam
submetendo tripulantes a jornadas consideradas exaustivas.
"As
nossas demandas vinham do meio rural. Houve uma mudança nos últimos cinco
anos", diz Lyra. Agora, aumentou o campo de atuação, o que exige mais
estrutura e conhecimento. E não permite descuidar do meio rural, onde permanece
o "estado de alerta", segundo o chefe da fiscalização.
Apenas em
2014, foram 170 operações em 284 estabelecimentos, com 1.674 resgatados.
Confirmando a maior ocorrência da prática em áreas urbanas, o setor de
construção civil lidera, com 452 trabalhadores resgatados no ano passado. Em
seguida, vêm a agricultura, com 358, e a pecuária, com 238. De acordo com Lyra,
a maior ação individual ocorreu em uma obra de construção em Macaé (RJ),
envolvendo 118 trabalhadores.
Neste
ano, até o último dia 6, foram realizada 30 operações em 55 estabelecimentos. O
total de resgatados chega a 419.
Em alguns
setores, como o de açúcar e álcool, a situação melhorou bastante, avalia Lyra.
Independentemente do setor, ainda existem tentativas de burlar a legislação,
"mas a gente consegue identificar a fraude rapidamente".
O número
de resgatados caiu significativamente de 2013 (2.808) para 2014 (1.674). Em
parte, ele avalia essa queda a denúncias não confirmadas, que equivale a
praticamente metade do total. Mas ressalta que o número de operações no ano
passado foi um dos maiores desde o início das atividades dos grupos móveis, em
1995. Foram 170, só perdendo para 2013 (185) e igualando o total de 2011.
Desde o final do ano passado, a chamada "lista suja" do
trabalho escravo, divulgada periodicamente pelo MTE, foi suspensa por decisão
liminar do Supremo Tribunal Federal (STF), a pedido da Associação
Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc). O ministro do Trabalho, Manoel Dias,
disse hoje (13) que a Advocacia-Geral da União foi acionada e que espera uma
solução para breve. "Aguardamos para os próximos dias a revogação da
medida para que se estabeleça a publicação da lista."
REDE BRASIL ATUAL 13 de maio de 2015 16h43m
Adaptado pelo Blog do SINPROCAPE 13.05.2015 17h46m
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