O
EMBARGO ECONÔMICO DE CUBA PODERIA TER TERMINADO EM 1963 – O QUE DEU ERRADO
por
Pedro Zambarda de Araújo
Ele era estudante de Direito,
católico e conservador, narra a historiadora e jornalista Claudia Furiati em
uma biografia de mais de 800 páginas sobre Fidel Castro, publicada em 2002 após
uma pesquisa exaustiva de cinco anos.
O perfil
moderado dele contrastava, por exemplo, com o engajamento inflexível do
argentino Che Guevara. Tudo isso é documentado em detalhes no trabalho de
Claudia Furiati.
Mas uma
parte dessa história está sendo relembrada agora que, desde o dia 17 de dezembro,
Barack Obama resolveu reatar relações diplomáticas com o país. Uma das metas é
combater o embargo econômico, fixado no dia 7 de fevereiro de 1962.
Cuba não
sofreu um bloqueio por causa de sua ideologia socialista. Ela foi reprimida
desta maneira pelos Estados Unidos devido ao fracasso da invasão da Baía dos
Porcos, uma operação americana que visava derrubar o regime castrista.
Naquele
mesmo ano de 62, Fidel buscou estreitar relações com a União Soviética. A
assinatura do embargo pelo presidente John Kennedy e o posicionamento de
mísseis norte-americanos na Turquia apontados para a Rússia gerou outra
reviravolta no mesmo período.
Entre 14
e 28 de outubro, o mundo viveu a Crise dos Mísseis, com Cuba apontando
armamento nuclear contra os Estados Unidos. O risco de guerra mundial só foi
encerrado quando o líder soviético Nikita Khrushchev decidiu conversar com
Kennedy. Fidel Castro chegou a ficar a postos para iniciar o conflito.
O cessar
das hostilidades naquele período terminou por aproximar Fidel Castro do
presidente americano John Kennedy. Entre 1962 e 1963, tanto o líder dos EUA
quanto seu irmão, Robert Kennedy, fizeram várias negociações para liberação de
prisioneiros dos dois países. O advogado James Donovan foi enviado para a ilha
com 62 milhões de dólares em alimentos e remédios em troca da liberação dos
detidos que interessavam aos americanos.
Isso
aumentou a confiança de Fidel em relação aos americanos. Gravações datadas de 5
de novembro de 63 no Salão Oval de Kennedy registram diálogos entre seu assessor
de segurança McGoerge Bundy para enviar o embaixador William Attwood para uma
reunião em segredo com Fidel Castro. O tema da conversa era justamente retomar
o diálogo.
John
Kennedy também enviou o jornalista francês Jean Daniel, que o entrevistou em
outubro daquele ano. Era Daniel que estava com Fidel no dia 22 de novembro de
1963, quando Kennedy foi baleado por Lee Harvey Oswald. Fidel Castro disse:
“Vão dizer que nós o matamos”. Batata.
A morte
de John Kennedy sepultou uma operação diplomática que poderia ter acabado com o
embargo cubano em 1963, pouco mais de um ano depois do seu início. Os motivos
para o afrouxamento do presidente americano foram justamente a diplomacia dos
soviéticos, que evitaram uma guerra nuclear, e a abertura ao diálogo que estava
sendo promovida pelo ditador Fidel Castro.
O
assassinato do presidente norte-americano alimentou o sentimento anticomunista
no país, enquanto Fidel endureceu seu discurso anti-imperialista. A
intolerância formou o bloqueio econômico entre Estados Unidos e Cuba.
A
aproximação neste ano se deu após a liberação de prisioneiros. Barack Obama tem
vários interesses na jogada. O presidente americano, por exemplo, enfrenta uma
grande crise com a Rússia de Vladimir Putin atacando a Ucrânia, o que aumenta
as pressões da União Europeia por uma operação no local.
Obama
respondeu aos russos com sanções econômicas, repetindo uma fórmula do passado.
Os juros da Rússia subiram 6,5% entre os dias 14 e 15 de dezembro deste ano,
chegando ao patamar total de 17%. A moeda russa, o rublo, despencou cerca de
20% frente ao dólar e hoje vale 65,15 para cada cédula norte-americana.
Certamente
uma aproximação com Cuba feita pelos Estados Unidos pressiona a forma como a
Rússia trata a Ucrânia. Tropas russas invadiram a região da Criméia e, com
pressões diplomáticas, terão que se retirar.
Fidel
Castro e John Kennedy poderiam ser aliados econômicos desde 1963, há mais de 50
anos. A politização das diferenças, decorrentes do assassinato de Kennedy e do
acirramento da Guerra Fria, sepultaram as esperanças de uma relação mais
amigável, que volta a ser discutida agora.
DCM 19 de dezembro de 2014
Adaptado pelo Blog do SINPROCAPE 21.12.2014 05h13m
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