REFLEXÕES TRABALHISTAS
A ROTATIVIDADE NO MERCADO DE TRABALHO NO BRASIL
A taxa
de rotatividade decorrente da demissão por iniciativa patronal, de 43,4% em
2013, ficou levemente superior aos 40,9% de 2003. Portanto, mesmo em um mercado
de trabalho mais competitivo, no qual as empresas reclamam da falta de mão de
obra, o ritmo de demissão por iniciativa patronal cresce
por *Clemente
Ganz Lúcio
Rotatividade no mercado de trabalho é a substituição de um
empregado por outro no mesmo posto de trabalho. No Brasil, as empresas têm
total liberdade para contratar e demitir a qualquer momento sem precisar
apresentar nenhuma explicação ao trabalhador. Basta pagar os custos da rescisão
do contrato de trabalho.
No mercado formal de trabalho
do País, milhões de vínculos de emprego são rompidos anualmente e novos são
estabelecidos.
Nos anos 1990, este fenômeno
ocorria em um cenário de alto desemprego, precarização das condições de
trabalho e redução dos salários pagos aos novos contratados em relação aos
pagos aos demitidos. Contudo, há uma década, o desemprego vem se reduzindo, a
formalização aumentando, os salários crescendo e, mesmo assim, o fluxo de demissão
e contratação continua em ampliação.
Há alguns anos, o DIEESE
(Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), em
cooperação com o Ministério do Trabalho e Emprego e entidades sindicais,
investe no estudo da rotatividade no mercado de trabalho, procurando inclusive
formas de intervenção que ajudem a reduzir o problema.
Há
publicações que tratam dessa temática no site da entidade. O último trabalho foi recentemente
divulgado, com dados de 2013.
Com base nos registros
administrativos da RAIS (Relação Anual de Informações Sociais), o fluxo geral
de demissões e contratações no mercado formal é analisado, sem observar
especificamente o posto de trabalho, como uma maneira de aproximação da
mensuração da taxa de rotatividade.
Os registros da RAIS indicam
que houve crescimento do mercado formal de trabalho no Brasil na última década,
que passou de um estoque de 29 milhões de vínculos em 31/12/2002 para quase 49
milhões em 31/12/2013.
Portanto, foram 20 milhões de
novos empregos com carteira de trabalho. Entretanto, o estoque de postos de
trabalho no final do ano não revela o grande fluxo de admissões e demissões que
ocorre ao longo do ano. Por exemplo, em 2013, foram mais de 75 milhões de
vínculos ativos ao longo do ano, dos quais mais de 26 milhões foram rompidos no
mesmo período. Qual é a lógica dessa dinâmica que se repete anualmente?
A taxa de rotatividade do
conjunto do mercado formal de trabalho (celetistas + estatutários), em 2013,
foi de 54,9%, levemente inferior à taxa de 2012 (55,2%), contudo superior à de
2003 (42,7%).
Considerando que os servidores
públicos estatutários têm estabilidade no emprego, procedeu-se ao cálculo da
rotatividade somente dos trabalhadores contratados no regime celetista (emprego
com carteira de trabalho) e submetidos à demissão por iniciativa do empregador.
Com este recorte, a taxa fica
em 63,7% em 2013, estável diante dos 64,0% de 2012, mas bem superior aos 52,4%
de 2003. O crescimento do contingente de ocupados ampliou o ritmo frenético de
contratações e demissões dos trabalhadores celetistas.
As demissões ocorrem
predominantemente para os trabalhadores com menos de 1 ano de vínculo e
representam 66% dos desligamentos. Quase metade (31%) dos desligados tinha até
três meses de vínculo, ou seja, estava no período caracterizado pela legislação
como contrato de experiência. As ocupações em que mais rodam trabalhadores são
aquelas vinculadas ao apoio na produção e nos serviços: assistentes,
auxiliares, serventes e ajudantes.
A demissão, rompimento do
vínculo que decorre de iniciativa patronal, representou 68% dos desligamentos
em 2013 (era 78% em 2003). Com o mercado de trabalho aquecido e queda no
desemprego, observa-se o aumento do desligamento a pedido do trabalhador, de
16%, em 2003, para 25%, em 2013. Transferências representaram 6,5%,
falecimentos, 0,3%, e aposentadorias, 0,1% (2013) dos rompimentos dos vínculos
de emprego.
Ao subtrair da taxa de
rotatividade total (63,7%) os desligamentos a pedido do trabalhador, as
transferências, as mortes e aposentadorias, chega-se à taxa de rotatividade
decorrente da demissão por iniciativa patronal, que atingiu 43,4%, em 2013, e
ficou levemente superior aos 40,9% de 2003. Portanto, mesmo em um mercado de
trabalho mais competitivo, no qual as empresas reclamam da falta de mão de
obra, o ritmo de demissão por iniciativa patronal cresce.
Há muita diferença na taxa de
rotatividade entre os setores, conforme indica o Quadro 1.
Em 2013, o número de estabelecimentos foi estimado em 3,9
milhões, dos quais 6% foram responsáveis por mais de 63% das demissões. É
importante esclarecer que uma empresa pode ter vários estabelecimentos – por
exemplo: um banco tem uma rede de agências e cada agência bancária é
considerada um estabelecimento.
Em torno de 58% dos
estabelecimentos do País operam com taxa de rotatividade acima da média. Ao
mesmo tempo, 18,6 mil estabelecimentos, o que representa 0,5%, são responsáveis
por 34% dos desligamentos.
Qual é mesmo a funcionalidade
econômica da rotatividade? Um trabalhador normalmente pede demissão porque o
posto de trabalho é ruim (salário, condições de trabalho etc.) ou porque teve
uma oportunidade melhor e isso ocorre quando o mercado de trabalho está
aquecido.
De outro lado, as empresas demitem
para contratar um trabalhador com salário menor, quando há muito desemprego.
Contudo, quando as empresas precisam de mais força de trabalho e disputam
trabalhadores no mercado de trabalho, qual a funcionalidade de demitir e
contratar?
*Clemente
Ganz Lúcio - Sociólogo,
diretor técnico do DIEESE, membro do CDES – Conselho de Desenvolvimento
Econômico e Social
BRASIL DEBATE 12 de janeiro 2015 às 00:03
Adaptado pelo Blog do SINPROCAPE 13.01.2015 09h15m
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