Se já é preocupante, sobretudo num momento de alta dos juros, o problema assume dimensão mais grave quando se considera a qualidade das dívidas. De acordo com a Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic Nacional), divulgada ontem pela entidade, a maior parte das famílias está comprometida com cartão de crédito e cheque especial, as duas modalidades com as taxas mais altas do mercado financeiro.
"Por conta do spread bancário, que pode chegar a 200% no país, as famílias não estão conseguindo se livrar das dívidas nas modalidades mais perversas. Num ranking de 189 países, o Brasil só tem spread menor do que Madagascar, uma nação inexpressiva no cenário financeiro mundial", explicou Samy Dana, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Risco
Na avaliação do economista da CNC Bruno Fernandes, muitos consumidores não estão conseguindo quitar seus débitos e, por isso, estão contraindo novas dívidas para pagar as anteriores. "Isso é perigoso, porque mantém a tendência de alta", constatou.
A pesquisa da CNC também apontou elevação da inadimplência. O percentual de famílias com dívidas ou contas em atraso é crescente: passou de 20,3% em junho para 22,4% em julho. "Desse total, 7,4% disseram que não terão condições de honrar seus compromissos", alertou Fernandes.
Descumprir os pagamentos pode significar a perda de patrimônio, como carros e imóveis. O financiamento desses dois tipos de bens também aumentou, o que não é de todo mau, segundo o economista da CNC. "Quando troca dívidas de curto prazo no comércio varejista por créditos mais longos, como na compra de um imóvel ou de um carro, o consumidor paga juros menores e adquire bens duráveis", justificou.
As dívidas de longo prazo, contudo, esticam o tempo médio de comprometimento da renda, que também está alto demais. Segundo a pesquisa, 27,8% dos endividados têm compromisso por mais de um ano. O nível é maior (38,3%) entre consumidores com renda acima de 10 salários mínimos.
Outro dado negativo é que o período de atraso está aumentando, o que significa mais juros a pagar e, portanto, menos chances de solvência. Dos inadimplentes, 43,8% estão com atrasos acima de 90 dias. Nas famílias com renda até 10 salários mínimos, o índice é de 47,5%.
Correio Braziliense
Por blog do SINPROCAPE
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