PACOTE DE TEMER PARA ECONOMIA VAI EMPOBRECER TRABALHADORES
As propostas do vice-presidente, Michel Temer, para tirar o país da
crise econômica em seu eventual governo, caso a presidenta Dilma Rousseff tenha
de enfrentar o processo de impeachment, foram duramente criticadas hoje (26) no
seminário “Trabalhadores e Trabalhadoras em Tempos de Crise: Construindo
Alternativas”, realizado em São Paulo pela UGT e pelo Centro de Estudos
Sindicais e de Economia do Trabalho (Cesit), da Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp)
A professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Lena
Lavinas mostrou preocupação principalmente com a proposta de desindexação dos
benefícios previdenciários pelo salário mínimo. “O salário mínimo tem de manter
a vinculação ao piso previdenciário. Temos de impedir que a mudança aconteça,
porque vai levar ao empobrecimento da classe trabalhadora. Em vez disso,
precisamos defender o fim das desonerações de capital, o fim da Desvinculação
de Recursos da União (DRU) sobre a seguridade social e elevar a produtividade
no trabalho para os salários poderem crescer”, afirmou. A DRU é um dispositivo
de gestão do orçamento, que tem permitido ao governo aplicar 20% de seus
recursos em áreas diferentes daquelas definidas pela Lei de Diretrizes
Orçamentárias (LDO).
O pesquisador do Cesit e professor da Unicamp José Dari Krein alertou
para os riscos de a proposta permitir que os acordos em convenção coletiva
prevaleçam sobre as nomas legais, um dos itens que também é defendido por Temer
no documento que o PMDB tornou público no fim do ano passado, chamado "Uma
ponte para o futuro", quando começaram a avançar as discussões sobre o
impeachment na Câmara Federal. “Essa é a busca de se compatibilizar os direitos
trabalhistas com a situação do capital atualmente. É uma nova ordem dada pela hegemonia
neoliberal, com base no padrão da flexibilidade”, afirmou, destacando que as
empresas querem maior liberdade para definir jornadas e formas de contratação.
Retrocesso
O pesquisador disse que a reforma trabalhista com caráter de retrocesso,
tema que originalmente começou a ser discutido nos anos 1980 nos países
avançados, ganha força no contexto atual do Congresso Nacional, onde tramitam
55 projetos que ameaçam direitos trabalhistas. “É uma ofensiva para
desconstruir a proteção social dos assalariados”, afirmou, ao reconhecer que as
empresas usam o argumento da flexibilização de normas para que possam
conquistar mais competitividade. Krein também considera que a flexibilidade
pretendida fortalece a negociação coletiva e ao mesmo tempo enfraquece a
representação sindical.
Ele vê ainda entre as ameaças de retrocesso o avanço da terceirização em
todas as áreas, o fim do aumento real de salário e a extinção dos mínimos regionais.
“Flexibilizar é reduzir direitos”, disse o pesquisador, ressaltando que não
existe estudo que comprove a tese de que a flexibilização do mercado de
trabalho seja capaz de produzir mais empregos. “É um quadro complicado que se
avizinha. A crise é profunda, o nível de descontentamento da sociedade começa a
se exacerbar”, afirmou.
Resistência
Ao mesmo tempo, Krein reconheceu que tem surgido fora das instituições
uma resistência aos retrocessos, e citou a mobilização estudantil contra a
reforma do ensino público em São Paulo, que marcou o ano passado. Lembrou ainda
a atuação política das torcidas organizadas e disse que 2015 foi o ano de maior
nível de mobilização do movimento sindical desde os anos 1990 por conta dos
ataques aos direitos trabalhistas promovidos pelos parlamentares. “A luta
contra a terceirização foi o grande tema de 2015”.
Situação internacional
Segundo o professor, a questão mais profunda que está por trás das tensões
entre trabalhadores e empresas é que em vez de construir uma economia dinâmica,
como querem as empresas, é preciso pensar em “construir uma nação” e por isso,
os direitos e a cidadania são fundamentais.
Também pesquisador do Cesit e professor da Unicamp, Anselmo Luís dos Santos fez
uma retrospectiva das razões que levaram a economia do país à crise atual,
observando que a partir de 2012 o ciclo internacional de alta de preços das
commodities, a expansão do crédito no país e o consumo mostraram sinais de
esgotamento. “Tínhamos de passar do ciclo de consumo para o investimento, mas
isso não aconteceu”, afirmou, destacando que seria preciso ter mantido o papel
do Estado como indutor do crescimento, mas "isso não foi conseguido pelo
governo e a desaceleração da economia tem sido brutal”.
O professor disse também que o PT não teve um projeto político e
econômico para transformar o país desde que assumiu o governo. “A reforma
tributária não foi feita, os juros continuaram altos e, assim, como se pode
induzir o crescimento”, indagou. Para Santos, faltou ao governo promover algum
tipo de ruptura para efetivamente poder transformar a realidade do país, o que
não aconteceu. “Sem o contexto internacional das commodities, a renda e o
crédito no país se esgotaram. E nós não fizemos nenhuma ruptura, não fizemos
também a reforma agrária e a reforma urbana”, afirmou.
Santos lembrou que na atual crise, o desemprego já cresceu 40% e que
isso também ameaça a coesão e força dos movimentos sindicais. O pesquisador não
vê outra solução para o país sem que o governo baixe os juros. “Juros mais
baixos liberam dinheiro para o país investir, mas é preciso fazer uma reforma
tributária progressista e cobrar impostos dos mais ricos”, defendeu. Ele avalia
que essa reforma permitiria melhorar a capacidade de financiamento da economia,
retomando os investimentos. Mas ao mesmo tempo ele admite a dificuldade dessa
pauta, por conta do momento político delicado. “É difícil ter força política
para fazer, o governo nesses anos, desde Lula, aceitou o receituário
neoliberal.”
Processo de 'financeirização'
A professora da UFRJ Lena Lavinas disse que o capitalismo passa
atualmente por um processo de “financeirização” que está também levando a uma
mudança no modelo de atuação do Estado. Segundo ela, historicamente, depois da
Segunda Guerra Mundial, os países europeus puseram fim à mercantilização da
educação, saúde e moradia para criar um sistema de proteção social e garantir a
cidadania. É o que ela chama de “Estado provedor”, modelo que foi necessário
para que o mundo se recuperasse dos problemas da grande guerra.
Lena destaca, no entanto, que a
partir dos anos 1980 e 1990, a atuação do Estado começou a mudar para assumir
um papel de “promotor” do desenvolvimento até chegar aos dias atuais, “em que o
Estado é fiador” do desenvolvimento. Ele cita como exemplo o programa do Fies,
que financia cursos superiores para estudantes em universidades particulares,
sendo que ao término do curso o estudante tem uma dívida com o sistema
financeiro. Ela diz também que o Bolsa Família segue a mesma lógica,
transformando cada beneficiário em uma pessoa com inclusão bancária. "Todo
mundo vai ter uma renda básica e o resto vem com acesso ao mercado
financeiro", disse.
Fonte: PORTAL VERMELHO 26 de abril de 2016 18h39m
Adaptado pelo Blog do SINPROCAPE 27.04.2016 09h40m
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