TEMER:
ACERTAR EM CHEIO CONTRA QUEM?
"No dia
em que o Senado aprovar o afastamento de Dilma, o virtual presidente Michel
Temer planeja anunciar toda a equipe econômica. Não importa quem vai acionar o
gatilho, o alvo já está claro: os trabalhadores e os direitos sociais e
trabalhistas"; a afirmação é da colunista Tereza Cruvinel; ela elenca as
prioridades que ele tem enunciado: permitir que as convenções coletivas
prevaleçam sobre as normais legais, acabar com as vinculações constitucionais
dos gastos com Saúde e Educação; fim de todas as indexações seja para salários,
benefícios previdenciários e outros encargos federais, acabar com a regra
85/95, renegociada por Dilma com o Congresso, política de desenvolvimento
centrada na iniciativa privada com novas privatizações se necessário
por Tereza Cruvinel*
“Tenho que acertar em cheio”, teria dito Michel Temer sobre seu
desafio na economia, caso assuma a Presidência, conta o colunista Ilimar Franco
em O Globo. Esta frase lembra muito outra. “Vou liquidar o tigre da inflação
com uma única bala”. Quem disse foi Fernando Collor ao apresentar o malfadado
plano que levou seu nome e deu no que deu: confisco da poupança e dos depósitos
bancários, recessão, desemprego e desnacionalização da economia.
Depois de algumas recusas, Temer teria fechado com Henrique Meirelles
para a Fazenda, informa este 247. No dia em que o Senado aprovar o
afastamento de Dilma, o virtual presidente planeja anunciar toda a equipe
econômica. Não importa quem vai acionar o gatilho, o alvo já está claro: os
trabalhadores e os direitos sociais e trabalhistas. As prioridades que
ele tem enunciado nas conversas que tem tido não deixam dúvidas mas convém
traduzir alguma delas, proferidas com o hermetismo com que as notícias ruins são
embaladas. Algumas:
1-Permitir que as convenções coletivas prevaleçam
sobre as normais legais.
Isso significa na prática o seguinte. Na hora do acordo anual com os
sindicatos, os patrões endurecem e impõem aos empregados a renúncia a alguns
direitos. Horas extras serão pagas com 10% e não 50% de adicional, por exemplo.
E assim por diante. Diante do risco de demissões, algumas categorias podem se
vergar. Ou então, tome greves.
2-Acabar com as vinculações constitucionais dos
gastos com Saúde e Educação.
Na prática, o governo dele tentará suprimir as metas de gasto
mínimo do governo já garantidas com estas duas áreas cruciais, como os 10% do
PIB com Educação e os atuais 13,2% das receitas correntes com Saúde. Dá
para imaginar o que vai acontecer com a prestação destes dois serviços
essenciais pelo Estado brasileiro. Se já não são bons, irão ao caos.
3-Fim de todas as indexações seja para salários,
benefícios previdenciários e outros encargos federais.
O primeiro benefício a ser atingido por esta medida será o
salário-mínimo, que segundo a política atual implantada por Lula, tem tido
ganhos reais graças à correção que leva em conta a inflação mais o percentual
de crescimento do PIB do ano anterior. Na esteira do arrocho ao salário-mínimo
virão as perdas dos aposentados e do valor de benefícios como PIS/Pasep e
outros.
4-Ampliar a idade mínima para aposentadorias.
Já sabemos. Ele quer acabar com a regra 85/95, renegociada por Dilma com
o Congresso depois de uma pauta-bomba. A idade mínima para as mulheres subiria
dos atuais 60 para 64 anos e a dos homens de 65 para 69.
5-Política de desenvolvimento centrada na iniciativa
privada com novas privatizações se necessário.
Este filme é conhecido. Entre os endereços, a Petrobrás e o pré-sal.
6-Limitar as despesas de custeio num percentual
inferior ao crescimento do PIB.
Como estamos em recessão, o gasto pública sofreria um arrocho brutal,
não combinando com a promessa de manter e até de ampliar o valor dos benefícios
das políticas de transferência de renda, como Bolsa Família e outros.
Tem mais,
muito mais, mas estes pontos já constituem um aperitivo assustador. O que Temer
não parece levar em conta, quando fala em “acertar em cheio”, é a resistência
dos movimentos sindicais e sociais a esta agenda de retrocessos.
Na
segunda-feira, depois de estarem com Dilma, as frentes Brasil Popular e Povo
Sem Medo vão ao Senado. Através do senador petista Jorge Viana, já marcaram um encontro com Renan Calheiros e vão
se avistar com outros senadores, tanto da comissão do impeachment como do grupo
que está propondo eleições diretas em outubro.
Vão se
posicionar contra o golpe e avisar que no eventual governo Temer vai ter
luta.
Alguém vai
ter que ser capaz de unificar o país, disse Temer em sua primeira demonstração
de que cobiçava o cargo de Dilma e iria conspirar para conquistá-lo. Mas com
esta agenda, vai ser difícil qualquer unificação.
*Tereza Cruvinel é uma das mais respeitadas jornalistas
políticas do País
Fonte: BRASIL 247 23 de abril de 2016
Adaptado pelo Blog do SINPROCAPE 24.04.2016 09h13m
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